ALELUIA, GRETCHEN!
Doca Ramos Mello

Jesus, Maria, José, é mais uma coisa contra nós! Segure-se, que tenho um negócio p'ra contar... E foi Aristeu, meu marido, quem me deu o serviço, Aristeu já trabalhou de faxineiro em banco, portanto entende do riscado. Além disso, nunca foi homem de mentiras e fofocas, você sai por aí e pergunta se um dia ele mentiu alguma coisa, nunca, se ele falou, pode botar fé.

O que acontece é o que meio mundo já está careca de saber: inveja! Porque o mundo todo não se controla de inveja de nós, brasileiros, de modo que fica a raça todinha dos estrangeiros olhando a gente de soslaio e esperando que em cada residência nossa haja um jacaré, um macaco e uma cobra, essas coisas que revelam o quanto esse pessoal é ignorante. Depois, eles comentam que nós somos "exóticos", dizem isso para disfarçar a falta de conhecimento sobre os nossos costumes tropicais e fingir que nos toleram o samba, o remelexo e a mulatagem...

Os estrangeiros, coitados, na sua grossa maioria muito mal-acomodados em seus países atarracadinhos, praticamente modestos quitinetes em se comparando com a nossa vasta mansão tupiniquim, só podem mesmo remoer dor-de-cotovelo, afinal nós temos quilômetros e quilômetros de costa com um mundaréu de praias magníficas, campos aos montes, serras, planaltos, planícies, ilhas, rios, um calor dos deuses e todo um despautério de natureza variada e rica, uma barbaridade! Sem falar da Amazônia, virgem! Aquilo lá, então, é fonte eterna de mau olhado e objeto de desejo e ciúmes internacionais, todo mundo querendo um naco da nossa floresta, e invadindo, e xeretando, e ditando regras, e ameaçando mandar, e explorando, e surripiando fauna e flora, e pretendendo levar na mão grande (e não houve uma empresa estrangeira que teve o topete de registrar "açaí" como sua patente?!!!) — sai p'ra lá, jacaré, estamos de olho.

Ah, sim, o que me contou Aristeu... Pois Aristeu me disse que acaba de ser descoberto um esquema suíço muito do nojento, utilizado para deixar o cidadão brasileiro em péssima situação, muito embaraçado mesmo, vê se pode?! Essa gente não tem mais nada de útil p'ra fazer na vida, não, eu heim...

Já ouviu falar na Suíça? É um toquinho de terra enfurnado na Europa, só Minas já é capaz de jantar a Suíça e todos os suíços numa tacada e ainda fazer barba, cabelo e bigode em cima daquele 3m x 4m, acredite em mim, aquilo é uma fazendinha... Pois eu conheço muito bem a Suíça, não é de hoje, não só porque minha irmã tem uma amiga que se enrabichou por um engenheiro suíço de tal forma que se casou com ele e foi-se embora para a terra do moço, onde assuiçou-se de vez, mas também porque nunca vou me esquecer de uns chocolates que eu ganhava de meu avô quando criança, em cujas embalagens apareciam umas paisagens suíças cheias de vaquinhas suíças pastando em capim suíço, muito lindinho. Então eu conheço aquela gente, mais ou menos.

Apertado na fazendinha, o suíço é um povo rico que fala arrastado e lá, na terra deles — disse a amiga da minha irmã —, você não pode fazer um churrasco sem pedir a autorização da vizinhança (veja você como eles se metem uns na vida dos outros!). Lá, o que eles mais plantam é banco e os bancos deles aceitam dinheiro de tudo quanto é canto do mundo e de qualquer cristão, de modo que são bancos muito riquíssimos. Vamos que você tenha aí uns pequenos milhões de dólares meio sujinhos e tal, que ainda não foram para a lavanderia, etc., você pode guardar essa grana lá no banco suíço que eles deixam, são banqueiros muito receptivos e discretos. Isso é bom porque, no geral, o dinheiro que vai p'ra lá é uma coisa que o dono não quer que se comente a respeito, sabe, um segredinho só dele, mania de rico...

Entretanto, muito provavelmente por causa daquela inveja que citei, tem banco suíço botando dinheiro grosso lá, em nome de modestos funcionários públicos daqui, sem a autorização deles, sem nada, pelas costas mesmo, com certeza na tentativa de embaraçar os coitados, de deixá-los em má situação com o governo brasileiro e, na seqüência, armar um sururu na terra da gente aqui, é um absurdo! Há, inclusive, fortunas até mesmo no nome dos inocentes filhos dos funcionários, uma temeridade, e, agora, estão os pobres respondendo a processo, sem poder dar conta de um dinheiro que eles nunca souberam existir, como pode tamanha injustiça?!

Desesperados, os moços lançaram um apelo ao mundo: "Procura-se doador de 32 milhões de dólares, depositados à revelia na Suíça — oferece-se recompensa em carinho". Eles ressaltam o "carinho" porque já declararam que não abrem mão da grana que, apesar de sua origem desconhecida, uma vez estando em seus nomes, lhes pertence por direito, é um raciocínio lógico.

Você ri?! Não devia. Aristeu me garantiu que isso pode acontecer com qualquer funcionário público brasileiro, incluindo nós duas. A gente não está livre só porque serve o café, fique esperta, colega. 

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.