Ana de 1968 + 10 (quase uma filha)
Shirley Kühne

Naquele tempo a violência
também nos procurava,
você não tinha nascido,
e eu ia deixando de ser menina.

Havia flores, claro. E verde oliva.
Tinha mais verde, é verdade.
Mas não tinha mais verdade
brotando com o verde.
Tinha gente, cinema,
maravilha divina.
Eu assistia.

Nas praias aconteciam festas
de noite, de dia.
Preciso era estar atento e forte.

O luto?
Ele também existia.
O de corpos insepultos,
a oculta e maternal agonia.

Você veio dez anos depois
das praças em guerra,
dos aparelhos nas casas,
dos milagres feitos
na nossa lua clandestina.

Hoje,
faz algum tempo que você chegou,
vinte e poucos anos....
E nós que procuramos tanto -
a paz,
a liberdade,
o amor, a alegria -,
não encontramos tudo o que queríamos.

Sós,
seguimos a mesma estrada de
nossos pais.

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