FICOU NA MÃO
Ronnie Vitorino

Quem ama o feio, passa por ridículo. Tenho um amigo, o Fabrício. Gente boa o cidadão. Um dia, ele tomava um refrigerante na praça de alimentação de sua faculdade completamente sozinho na mesa. Gostava de fazer uma horinha antes de subir pra aula. Puro charme. Dava uma passada de olhos no caderno, e depois do segundo sinal, subia pra aula. Sim, na faculdade dele toca sinal, tem recreio, essas coisas de ginásio. Mas aquele dia seria diferente.

Em suas divagações, pensava nas contas que tinha pra pagar no bar ao lado da faculdade. Olhava pra cima, passava a mão sob a cabeça e nenhuma idéia lhe veio à mente. De repente, olha pra frente e vê uma escultura em forma de gente. Uma linda loira, de cabelos longos, lisos, ombros delicados, olhos verdes. Mas o que mais chamou atenção do universitário, foi a maneira com que ela estava sentada: De pernas abertas.

Ela estava sozinha na mesa. "Coincidência?", pensou Fabrício. Não, era muita areia pra caminhonete dele. Olhava sem parar pra menina. Não necessariamente pra ela, mas pras pernas, para ser mais preciso. Começou a ficar tenso, suar nas mãos, na testa, babava com tal visão. De tanto tesão, digo, tanta tensão, beliscava a mesa.

Mas estava bom demais pra ser verdade. Não, o namorado da menina não chegou. Um cidadão, um pouco obeso, entrou na frente do nosso amigo e tampou a bela paisagem. Fabrício entrou em pânico. Colocou as mãos na cabeça, ficou ofegante, balançava os braços pro gordinho sair, mas de nada adiantava. Foram os trinta segundos mais longos da sua vida. Mas teve sua visão de volta. A menina ainda estava lá, da mesma maneira que a vira da última vez. Não cansava de olhar, desejando-a.

Porém, mal sai o gordinho, chegam três amigas. Feias! Muito feias. Horríveis! Até faltam-me adjetivos pra descrever as amiguinhas. Por que toda menina bonita só tem amigas feias? Acho que é medo de perder o namorado, por isso, evitam a concorrência. Ainda mais mulher, que é desleal pra caramba. Sempre acabam apelando. Ainda bem! Bom, nosso herói, um pouco desanimado, ensaia uma piscadinha pra ver se a cidadã se toca e sai com ele pra dar uma volta pela faculdade, porém, ele acha melhor não. Dá mais um tempo e espera as amigas saírem.

Enfim sós! Ele ameaça levantar da mesa, mas logo desistiu. Prefere ficar com aquele amor à distância, platônico. Olha mais um pouco para as pernas dela, não acredita no que vê e põe as mãos na cabeça. Fica uns cinco segundos cabisbaixo imaginando uma série de coisas, sua mente vagava ao redor da menina intensamente.

Ao levantar a cabeça, uma surpresa! A moça simplesmente desapareceu, escafedeu-se, desintegrou-se, sumiu! Completamente desesperado, Fabrício olha pra todos os lados em busca da sua musa. Não a vê em lugar algum. Culpa-se pela sua morosidade em não piscar para a menina, por não pegar o telefone, por não entregar um cartão de visita da empresa em que trabalhava pra fazer uma média. Sentiu-se um completo inoperante. Mas era pouco provável que a cidadã desse bola pra ele. Sabia que não preenchia os padrões de estética da sociedade, ainda mais com aquela pequena protuberância rugosa no rosto que tratava há anos e não saía.

O menino arrumou seu material, foi até a mesa em que a menina estava, na esperança de encontrar algum bilhetinho. Teve um prazer inesperado, havia um bilhete com o título: "Pra você que me olha".

Fabrício, todo cheio de si, já imaginou que ela teria marcado um local fora da faculdade marcando um encontro, ou dado o telefone pra marcar de saírem. Abriu rapidamente o papel que estava bem dobrado e começou a ler: 

"Menininho que tanto me seca,
Limpe o nariz.
Beijos.".

Discretamente, ele puxa um lenço de papel, faz o serviço e vai pra sala de aula, já meio sem classe. Dá uma última olhada e não vê a cidadã. Entra na sala de aula e comenta com um amigo:

- Cara, você não tem noção do que me aconteceu.

- O que?

- Vixi, fiquei olhando pra uma mina lá embaixo, mina gatíssima, e ela deixou um bilhetinho pra mim. Acredita? Que mini-saia era aquela?

- Hum, e aí?

- E aí? E aí que ela deu o telefone dela pra gente se encontrar.

- Tá. Legal! Mas limpa o nariz.

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