PRA QUE SERVE UMA JANELA?
Adilson Sobrinho

Os motivos que me levam à janela, nem sempre se referem à bela vista que dela tenho, dos aviões pousando ao longe, de um pequeno trecho de uma rodovia que me traz boas lembranças, das coberturas aristocráticas e suntuosas, parabólicas sempre antenadas, um pôr de sol invejável e da chuva que, quando cai, vista de minha janela, não sei bem porque, me enche de paz.

Tenho vindo à janela agora, em momentos de angústia, me sento no velho banco encostado ao para-peito encardido de outros braços e não vejo além de minhas dores e dúvidas.

Estou no segundo andar de um edifício e quase no último de minhas neuroses, o vento sopra frio e forte, balançando os pêlos eriçados de minha atordoada alma, as parabólicas aguardam calmamente que eu lhes envie sinais e confidências, mas quase não sei de mim, sou só apenas mais um homem sentado à janela, e pela janela dos meus olhos, atravesso a ferrugem das grades e, em uma reação adversa, não saio de mim, não vejo os aviões, a rodovia e as coberturas, é que fui acometido por uma tempestade interna.

De que me serve uma janela se meus olhos não conseguem olhar além de mim?

Quando, por ventura o vento, que sopra incessante, levar para bem longe as minhas negras nuvens, volto meus olhares para além dos limites de minhas grades e para bem longe da ferrugem dos meus dias, volto a ver o que de real existe no mundo lá fora e, como que emoldurado pela minha janela, vislumbro o sol, a noite e a vida, viajando em sonhos por sobre aeroportos e rodovias, pegando caronas em nuvens que me levem para muito além de mim.

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