O PRESO ÁRABE
Adlai Hoartmann

Outro dia e uma outra janela apareceu no canto esquerdo da parede oposta à sua superfície de domir, grande, gradeada, vazada de luz. A outra, a anterior, eles emparedaram, sofrera três ou seis dias na escuridão até que essa ainda maior, porém alta, apareceu, mirada no horizonte desapercebido que por entre os outros grandes prédios o sol continua a nascer e a impressão dos dias lhe deixava um calendário de rugas expressionistas. A cela, organismo vivo, hoje menor porém altíssima como uma torre, mas houve períodos em que imitava subterrâneos rastejantes, como esgoto de grande urbe. A cela viva imita movimentos amebóides porém quadrados, de tempos e tempos, como marcha de militares indo à batalha, miríadico, centopéico. A cela viva, o estômago de Deus, porém quieta, subterrânea. Até quando durará aquela nova janela? Quak o olho da cela que vê. Não saberia dizer. Ajoelhou-se flexionando o ventre por sobre os membros inferiores, o rosto quase tocando a terra úmida. Hesita uma prece (a Maomé) sem saber se a luz é do sol que nasce ou um gigantesco círio aceso à sua própria morte.

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