A PRIMEIRA SEPARAÇÃO
Alice

à minha mãe

Eu tinha 5 anos quando me separei pela primeira vez da minha mãe. Certo dia ela foi até a rede onde eu dormia, me abençoou e foi embora. Não compreendi porque ela tinha que ir assim tão de repente e não me levar como das outras vezes, o fato é que eu fiquei muito triste e desolada, nunca tínhamos nos separado e naquela manhã acontecera tão rápido como num piscar de olhos.

Levantei assustada e fui até a janela com minha visão turva de lágrimas, fiquei na ponta dos pés para poder vê-la na estrada poeirenta. Acompanhei-a com os olhos ardentes até que entrou num Jipe que a esperava do outro lado do rio, porque não tinha como um carro chegar até a nossa casa, momentos depois ele desaparecia na curva do caminho.

Fui até a cozinha onde meu pai tomava café com meus irmãos, já sabia que ao terminar eles iriam para a roça e só voltariam ao meio dia para o almoço. Esfreguei meus olhos ainda sonolentos e tentei ver minha mãe a beira do fogão a preparar o meu copo de leite com café. Tal não foi meu espanto quando vi que aquela senhora não era a minha mãe, que estaria ela fazendo ali? meu pai explicou para todos.

- Essa é D. Elita, ela vai cuidar de tudo até a mãe de vocês voltar daqui a uns três meses. 

Ela estava me olhando e sorrindo, um sorriso de mãe, de amiga e quando se aproximou de mim, pude sentir nela o mesmo cheiro de minha mãe, cheiro doce de bolo de milho, de café torrado em casa.

- Então você é a Licinha? vem cá, dá um abraço, e vendo minhas lágrimas disse: - Não chore, sua mãe volta logo.

Tomei meu café com leite e comi minha tapioca que ela tinha feito, parecia até mais gostosa que as de minha mãe, mas a lembrança da partida repentina me enjoava um pouco.

A partir daquele dia recebi o carinho de Elita, todos estavam satisfeitos com ela, era carinhosa,dedicada, cuidava de nós e da casa como se fosse a dona. Porém não preenchia de todo o vazio que aquela despedida me deixou e todos os dias ao levantar eu ia para a janela esperar, não podia ouvir barulho de carro que corria para a janela a ver se era ela voltando. Me perguntava se três meses eram muitos anos, muito tempo e de fato cada dia era um ano de tão longa que foi aquela espera. Passei a gostar demais de Elita, ela me penteava os longos cabelos sem puxar, sem se aborrecer porque eu não ficava quieta enquanto ela passava o pente, enquanto que minha mãe perdia a paciência e me dava uns cocorotes. Ela me banhava e me secava, a minha mãe me mandava ficar no sol para secar o que era rápido tamanha a sequidão naquelas bandas do sertão, mas mesmo assim eu preferia que ela estivesse em casa.

Finalmente um dia ela voltou, o meu pai sabia e não foi para a roça, eu estranhei e achei que ele estivesse doente, quando ouvimos barulho de carro ele disse que ela tinha voltado, eu corri para a janela, pois de lá eu podia ver do outro lado do rio. Meu pai foi ao encontro dela. Fiquei tão feliz por vê-la de volta, mesmo que não tenha recebido um abraço, nenhum carinho, apenas ela pedia a mão para dizer Deus te abençoe. 

Até hoje não sei o que ela foi fazer na capital, nunca perguntei e ela nunca falou. Também nunca lhe falei de como sua ausência me fez chorar, me fez sofrer.

E quando Elita partiu, depois da volta de mamãe, eu também sofri,chorei, ela me abraçou forte, me beijou e disse:_ Você vai morar para sempre no meu coração, minha pequenina. Eu sentia o coração dela batendo rápido e vi suas lágrimas caindo abundantemente. Fui para a janela vê-la acenando até se perder na distância, dessa vez não tinha Jipe a esperar eu a esqueceria logo. Continuei por muitos dias indo até a janela e sair de lá sorrindo, de D. Elita, apenas boas lembranças. A espera tinha acabado, não precisava mais ver através da janela, as pessoas que amava, se perderem da minha vista, na curva do caminho.

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