A VOZ E O ECO
Antonio Rodrigues

Encenei no teatro das vãs utopias
Lancinante monólogo de um sonhador
Em presença da morte que assaz comovida
Recolheu seu cajado... e esqueceu-se de mim

 

(A VOZ)
Como um galho seco caído de uma árvore que continua a gerar folhas e frutos, eu me sinto só, isolado. Abate-me a tristeza de constatar que ao meu redor a vida floresce de uma forma tão maravilhosa que os meus olhos jamais se deram conta, enquanto me alimentava da seiva que, com vigor, emergia das raízes que me criaram. Aos poucos, enlaça-me a terra em seu abraço de morte. Sei que por algum milagre ainda posso ver as alvas nuvens que tingem o azul do céu. Posso sentir que sequer as mais leves brisas tencionaram abandonar-me, pois a todo instante trazem até a mim o mais doce enlevo das canções que de tão lindas me fazem chorar um choro desesperado, porque me deparo com a incerteza da superação desse estado lastimável. Quando o dia cede lugar à beleza da noite, fico a contemplar as estrelas. Guardadas na distância que nos separa, sei que do seu brilho emana uma mensagem a mim destinada. Sinto que as decepciono porque nada compreendo. Só me resta a certeza de que em outros tempos compreenderia. Eis que quando as tempestades se aproximam eu as aguardo ansiosamente e a elas me dou como quem busca na fatalidade o esplendor da libertação, porque já a considera deveras tardia. Todavia, mesmo sendo um miserável e inexpressivo galho seco perdido nos convales da solidão, reconheço que a água da chuva não cessa de me abençoar, não cessa de despertar o pouco de vida que me resta, embora eu não seja de tal sorte merecedor...

 

(O ECO)
Eu sou a árvore que te conserva na sombra. Eu sou a brisa que te acaricia, ofertando-te as mais belas canções. Eu sou a terra que te abraça e te mostra quão bela pode ser a vida. Eu sou a chuva que te molha e não cansa de te abençoar. Eu sou a luz e a mensagem que emanam das estrelas, instando tua compreensão, teu melhor juízo. Eu sou o regaço que vela tua solidão, tua dor, teu martírio, esperando que vejas de um jeito diferente o dia e a noite que o amanhã haverá de revelar-te. Eu sou o propósito que tanto persegues.

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