PELAS JANELAS EU VEJO...
Bruno Freitas

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo os transeuntes na rua, vejo pessoas na calçada, vejo os pobres na esquina, batalhando os trocados do seu dia a dia. Pelas janelas eu vejo a vida dobrar a esquina e passar por mim sem eu querer. Eu vejo a pracinha vazia. 

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo tudo o que acontece na rua, vejo os funcionários do estado, aparando a grama verde e grande que impedia a circulação das formigas. Pela janela eu vejo a rua toda, vejo os carros que passam a toda velocidade, vejos os espíritos da luz do meio-dia. 

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo as cores do dia e o branco da noite, vejo as esquinas vazias. Vejo os moleques jogando bola, vejo o padre rezando a missa, enquanto os cachorros ladram no pátio da igreja. 

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo os carros estacionados ao relento, sem nenhuma proteção contra as influências climáticas. Vejo o vizinho que sai pra comprar seu jornal em plena tarde de domingo, sem saber se a banca esgotou seu exemplar. Vejo aquele personagem que passeia com seus cachorros, vejo a velha que sempre passa por aqui chutando coquinhos.

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo o carrinho da pamonha, uma pamonha por oitenta centavos e duas por um e cinqüenta. Vejo o menino que carrega em sua bicicleta, um alto falante maior que o mundo, trazendo reclames inoportunos as dez da manhã. Vejo também a kombi azul, da banana prata e outras frutas e legumes. Vejo os supermercados batendo de porta em porta, anunciando suas ofertas. 

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo a chuva ir e vir, o sol chegar e se esbaldar, saindo depois sem cerimônia. Vejo os postes acendendo no cair da tarde, vejo as luzes apagando no raiar do dia. Vejo o enorme placar de anúncio obstruindo minha visão do além. Vejo o movimento dos carros.

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo os arruaceiros fazendo fuzarca em plena praça. Vejo as crianças brincando no parquinho, vejo as mamães passeando com os filhos, e até mesmo às vezes, me vejo ali, na mesma praça em que observei tantas outras pessoas. Eu me vejo passeando por ali com meu filho, fumando um cigarro, lendo um jornal, bebendo uma coca-cola, ou mesmo, esfregando a fralda suja de cocô do meu filho, no mesmo banco da praça onde os arruaceiros sentaram-se na noite anterior, e que eu sei que pra lá voltarão nesta noite.

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo tudo que eu sempre quis, só não vi o assaltante passar e levar o meu tão querido carrinho, o qual eu suei muito pra pagar e ainda nem terminei. Pela janela do meu apartamento eu confesso que não vi nada disso. 

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