A ESPERANÇA POR DETRÁS DA JANELA
Marcel Agarie

Foi amor a primeira vista, algo que nunca havia sentido. Confesso que eu nem acreditava que um dia algo assim pudesse acontecer. 

Todas as manhãs, em minhas idas e vindas do trabalho, o meu caminho cruzava um misterioso olhar vindo de uma garota, que parecia se proteger por detrás da janela. Olhos brilhantes que transmitiam paz, alegria e ao mesmo tempo uma vontade enorme de conquistar o mundo. Todas as vezes que eu passava por lá, aquele olhar fingia ignorar a minha passagem. Porém, eu sentia que propositadamente o seu corpo debruçava sobre o parapeito, principalmente quando os seus olhos avistavam a minha chegada. Eu também fingia não perceber, fazendo-me de difícil. 

Não havia um minuto sequer que ela não estivesse lá, ora ouvindo o cantarolar dos pássaros, ora vendo os carros passando sem destino. Parecia sempre estar me esperando. Quem seria ela? Como alguém que nem conheço, poderia estar apertando tanto o meu coração?

Muitos dias de passaram e eu nem sequer tive coragem de perguntar o seu nome. E enquanto este tempo passava, a natureza tornava-a mais bela, mais vaidosa e eu mais apaixonado. 

Eu tinha alucinações, sonhos e fantasias pensando naquela garota. Quando eu estava a alguns quarteirões de distância da janela, já era possível sentir o seu perfume carregado pela brisa. O coração acelerava, parecia tentar fugir pela boca, enquanto a barriga batia um frio de congelar o estômago. Minhas mãos transpiravam. 

Certa vez, decidi enfrentar a minha timidez. Na hora do retorno do trabalho, eu pararia embaixo daquela janela e tentaria puxar uma conversa. Quem sabe eu não descobriria pelo menos o seu nome. Eu estava disposto a tudo.

Chegando lá, uma tristeza geral. Não trocamos olhares, sorrisos, tampouco insinuações amorosas. A janela fechada me deu uma sensação de vazio e a placa pendurada com a mensagem aluga-se, dava a certeza do vazio. Sem perceber, lágrimas lamentavam aquela situação. 

Uma senhora da casa vizinha, observando minha decepção, consolou-me. Quando eu me acalmei, entregou-me um bilhete dizendo ser escrita pela garota que ficava todas as manhãs, tardes e noites distribuindo olhares misteriosos por aquela janela. Sem entender nada, perguntei:

- Como a senhora sabe que este bilhete é para mim?

- Ela tinha certeza que você viria até aqui. E sabendo disso, me pediu para que eu te entregasse.

- Mas a senhora não me conhece, nunca me viu!

- Ela me disse que a primeira pessoa que padecesse sob a janela, era para quem eu deveria entregar o bilhete.

- Ou seja, eu!

- Pois é... Nem tô acreditando. Pensei que este bilhete iria ficar encalhado em casa.

O bilhete foi a chave para que pudesse entende-la e também a última notícia que tive sobre o seu paradeiro. Por motivos médicos, ela se mudou para Cuba, onde foi fazer um tratamento experimental para tentar recuperar os movimentos das pernas, perdidos em um grave acidente de trânsito. 

Pensando bem, muito mais do que a nossa troca de olhares, aquela janela transmitia a imagem do mundo que ela pretendia reconquistar. As pessoas se locomovendo, os carros passando e as crianças que por ali brincavam. Uma lição de amor, força e principalmente, muita coragem e esperança.

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