CONEXÃO COM O ASTRAL
Adriana Vieira Bastos

E lá ia, perdido na estrada, em busca de seu caminho espiritual; estava cansado dessa vida sempre igual! Um pouco mais andou e animado ficou: um lugar mágico avistou. Sabia que se deixasse fluir, algo iria descobrir. E descobriu: uma enorme feira espiritual. Cada seita se dizia a tal. Vendiam a conexão com o astral.

Com uma guia estranha se deparou e, para segui-la, o convidou. Sua fala apresentava um diferencial: parecia que tinham lhe feito uma lavagem cerebral. Chamava-se Turmalina, a patética menina. Para melhor interagir, pensou em se apresentar como Zé Adventurina. Quem sabe rolava um clima? 

Depois desistiu da pretensão e resolveu, calado, lhe acompanhar. Ela representava um grupo famoso de energia. Convicta, afirmava não haver lá hierarquia. Mas, bastou pedir para tirar uma foto do lugar para saber que teria de consultar a administração. Não gostou da contradição. Era muita limitação!

Pensou melhor e, sua peregrinação, resolveu continuar. Ficou sabendo de um certo lugar que teria as chaves dos mistérios que estava a procurar. Ao conversar com o anfitrião, porém, sentiu que "a ver navios iria ficar". 

" - Desculpe, mas você ainda não está preparado. Só quando fores um iniciado", escutou desconfiado. Se quisesse aprender, um curso teria de fazer. Era só preencher a ficha de inscrição e fazer o provão. 

Não acreditou no que escutara e quase surtou: "- Quem eram eles para se acharem no direito de reter o saber? Quem havia lhes dado esse poder?". Sua busca continuou, com mais disparates se deparou e, sozinho decidiu ficar. Resolveu não optar pela mediocridade. Seria muita falta de originalidade. Não iria fazer bem para sua alma. Precisava de calma.

Respirou, desencanou e permitiu, finalmente, deixar a magia do lugar lhe tocar e com um vento assoprar o que tanto precisava escutar: enquanto dependesse de terceiros para lhe dizer o que fazer, correria o risco de se "imputecer" e se arrepender. Poderia se ver nas mãos de egos e vaidades, se intitulando os donos da espiritualidade.

Numa pedra isolada sentou, seu momento de ermitão resgatou e em tudo que tinha aprendido, até então, repensou. Lembrou-se do que Confúcio chegou, um dia, a dizer: "O sábio procura dentro de si mesmo, o louco busca tudo nos outros". Naquele momento de reflexão, achou interessante este ditado, na sua frente aparecer. 

Delirou um pouco mais e viu Lao Tzu lhe sorrir e completar: "O sábio sabe espontaneamente como agir, sem buscá-lo, porque tem o divino dentro de si. O quanto mais você procurar e buscar menos há de saber". Não é que tinha tudo a ver! 

Não se considerava sábio e nem tinha essa pretensão. Sabia o quanto ainda tinha que aprender, e esta disposição teria enquanto lhe fosse permitido viver. Sorridente, percebeu que, do seu jeito, já estabelecia a conexão com o astral e o quanto era "porreta" sua assessoria espiritual. Sem precisar de grandes rituais, esta sempre lhe atendia. Andou tanto para descobrir que gostava do caminho que, só, já percorria.

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