DEIXA O REBENTO REBENTAR
Bruno Freitas

Cada um fala uma coisa. Quem sabe melhor é aquele que fica calado. Calado não diz besteira. Quem não fala besteira é aquele que não dá conselhos de como educar filhos alheios.

O pior problema que um casal recém casado poderia enfrentar é a confabulação sobre como educar seu próprio e precoce rebento. São tantas crendices e idéias antigas, que os verdadeiros pais vivem educando os filhos através de simpatias e poções mágicas ótimas pra curar dor de barriga. 

Antigamente as mães diziam que o aleitamento materno era coisa difícil e sem consistência. Por isso inúmeras crianças cresceram com mamadeiras entupidas de carboidratos, contento a cura contra qualquer falta de apetite. Sendo que todo o alimento que os rebentos precisam, está no leite materno, rico em vitaminas e anticorpos que toda criança poderia precisar. Eu, quando criança, tive de contentar-me com estas mamadeiras. Por isso cresci assim... Sem vínculo, uma pessoa capaz até de queimar um índio na parada de ônibus, espancar até a morte um garçom em Porto Seguro, ou explodir uma pousada no interior da Bahia, afinal de contas, eu também já fui jovem em Brasília.

Não quero defender nenhuma teoria sobre a causa de tanta violência nos jovens de Brasília, podem haver inúmeras causas. Somente não suporto crendices absurdas de que para acabar com o soluço de qualquer criança, basta colocar-lhe uma pluma colorida na testa. Nem mesmo o argumento de que uma coisa colorida na testa pode desviar a atenção da criança, a ponto de esquecer que está com soluço. A criança simplesmente, não percebe nem que está com soluço, sendo assim, o soluço vai embora sozinho. 

Existe a idéia de que a criança tem que interromper o aleitamento materno aos seis meses, e iniciar uma dieta de nutrientes a base de papinhas Nestlé. Ledo engano! A criança pode mamar até os dois anos. E mesmo assim as papinhas da criança não podem conter muito tempero, nada de cebola e pouquíssimo alho. Porra! Que merda é a comida dos rebentos. Nem mesmo um caldo Knorr? Isso tudo é mentira, pura calúnia. Não capriche muito nos temperos, mas é bom deixar algum gosto na comida. 

Outro absurdo é o de ter pena de deixar o bebê dormir sozinho no quarto. Pois não é o lugar que ele vai dormir para o resto da vida? Seja em qualquer casa, ou até mesmo quando for independente, e sair pra morar sozinho. Melhor que o rebento durma sozinho desde pequenino, assim melhor aprende as agruras da vida. 

Não quero de saber de chupetas, ou os denominados ‘bicos’. O Ministério da Saúde adverte, que chupetas fazem mal na formação da arcada dentária e prejudicam o aleitamento materno. Foda-se o Ministério! Disse-me minha mãe, a avó supostamente... E daí? Eu também fumo, e já passei da fase de fumar escondido, ou de carregar carteiras de cigarro de algum amigo imaginário e fictício. Dizem até que a chupeta é calmante, e que é só enfiar goela abaixo para o rebento não rebentar de chorar. Pra mim a chupeta é uma lobotomia com a criança. A primeira repressão. Deixar que a chupeta cale o rebento é pior que trancar-lhe no quarto e jogar a chave fora. Alguns pais já fizeram isso... Dizem alguns que melhor a chupeta que os dedos. Melhor nenhum dos dois, mas já que até mesmo com chupeta, o rebento ainda vai chupar os dedos, e tantas outras coisas que lhe apetecerem, eu prefiro que ele chupe somente os dedos, e tantas outras coisas que lhe apetecerem, menos uma chupeta. Pois o Ministério já advertiu. Então, não me venha com idéias absurdas que o cigarro faz mal... Eu sei, mas me poupe. Não me venham com ironia, se entopem os filhos com chupetas.

Por fim, mas não sem tempo, é a vez de falar sobre os penduricalhos especiais na forma de esparadrapos colados na orelha para evitar as orelhas-de-abano, e moedas grudadas no umbigo, a fim de recoloca-los pra dentro. Coitada da criança que tem de agüentar o esparadrapo colado na orelha, por conta da vaidade dos seus pais. Deveria ser um atentado contra os direitos da criança, colar-lhe um esparadrapo na orelha. Caguei, se na hora de descolar, faz-se com água morna evitando machucar a criança. Foda-se! Eu não vou colar esparadrapo na orelha do meu filho. E daí se ele tem orelha-de-abano? Vai ter que conviver com isso... Quanto ao umbigo, eu sei muito bem o que ter o umbigo pra fora. Quando eu era criança, não gostava de tirar a camisa na frente de outras crianças por meu umbigo era diferente. Nenhuma outra criança jamais notou, ou mesmo que tivesse, jamais fizeram piada, nem mesmo sofri preconceitos. Por isso que estou aqui, espancando até a morte, um garoto que olhou pra minha namorada, pois afinal de contas, eu também já fui jovem em Brasília.

Quanto ao assunto dos jovens de Brasília, prefiro pensar sobre isso depois, já que meu filho será jovem em Brasília, um dia. Mas que tipo de jovem ele será? Será que essa falta de crendice, com a qual ele será criado, exercerá influência sobre ele? Não sei, só o tempo dirá, mas o certo é que ele vai ser uma pessoa sem simpatias e crendices estúpidas que somente serviriam para deixa-lo perdido na longa estrada da vida; “vou correndo e não posso parar. Na esperança de ser campeão: alcançando o primeiro lugar!”.

Por isso mesmo: deixem o menino crescer em paz, deixem ele viver solto na vida, deixem ele rebentar. 

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