FRIA MADRUGADA
José Leal

Três da madrugada. Mais um executivo depressivo derrama o scotch no copo, joga dois cubos de gelo e senta na cara poltrona, frente a papéis de números frios e tecnolinguagem. O seu espírito desértico de sensações fast-food - a inebriante TV 64' a cabo com 250 canais ou o amor arrebatador, quase poético, pela secretária, por exemplo - é exigência do capitalismo eficiente, para o qual ele deve todo o status de "infeliz bem-sucedido", tão prezado pela alta sociedade. À imagem e semelhança do deus Cifrão, é seco e direto no trato para com os seus - a esposa eternamente siliconizável é o brinquedo sexual e os filhos meras inconveniências abandonadas, futuros pacientes complexados de algum psicanalista. Quatro horas, mais alguns papéis e doses e ele poderá ir para seu leito dourado mergulhar no sono sem sonhos..

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