E AGORA, MÃE? A BAGUNÇA ACABOU...
Adriana Vieira Bastos

Com lágrimas nos olhos, para a casa vazia olhou e com a saudade da bagunça se deparou. A casa estava arrumada e, ainda assim, sentia-se desolada. Lutara tanto tempo por este ideal, e, agora, o mesmo parecia tão sem sal. 

Já não havia mais cata-vento para catar, pipas para soltar, bonecas para pentear e muito menos "duras" para dar; apenas saudades dentro do peito a contabilizar. Por que foram crescer? Que osso duro de roer! 

Irritada ainda mais ficou quando lhe disseram que assim era a vida. Sentiu-se "emputecida". Não percebiam que não queria "entrar numas" de racionalização; era a última coisa que pedia o seu triste coração. Por que não a deixavam viver a sua indignação? 

De mamãe e filhinho não iria mais poder brincar, pois no tempo não poderia voltar; o jeito seria recordar! Pelo menos, sabia ter muito o que lembrar! E essas lembranças, ninguém as poderiam, de dentro de si, tirar. 

Começou até a rir da situação. Quem diria que fosse lembrar com tanta saudade do tempo de tanta confusão! Da bagunça que a filha aprontava, mesmo sabendo o quanto esta a irritava. "- Mãe, eu já sei!", a menina respondia com a maior cara lavada e continuava sem arrumar nada.

E de quando tinha que, os filhos no colégio, levar? Era de pirar! Chegara até a pensar em criar uma Associação de Mães à Beira da Loucura. Sim, pois, na época, para elas, parecia não haver nenhuma possibilidade de cura! 

Um tempinho passou, a adolescência chegou e outros desafios enfrentou. Estranhava esse coisa moderna de "psicologizar" tudo quanto era relação. No seu tempo não tinha isso não! O pai falava, o papo miava e engasgada ficava. 

Mas depois, melhor pensava e à mesma conclusão sempre chegava: sabia o quanto fora vítima da repressão, não desejava aos filhos esta situação! O direito deles de opinar, sempre iria respeitar, por mais que esta opinião fosse lhe incomodar. 

Os filhotes continuaram a crescer e, com eles, também teve o que aprender. Não queria que os filhos desenvolvessem, por ela, qualquer dependência. Tenha paciência! Ensinou-os a voar. E tanto os ensinou que, mais cedo do que esperava, a mala deles ajudou a preparar. 

A mala fechou, um ciclo de suas vidas se encerrou e para o silêncio da sala arrumada voltou. Com uma grande verdade se deparou: levara tanto tempo preparando os filhos para um rumo na vida tomar que não teve tempo de se preparar para o vazio que este rumo iria, dentro de si, lhe causar. Não imaginou que este ritual de passagem fosse tão duro de agüentar! 

Permitiu-se, então, chorar! Reconheceu que pra esse vazio não tem como se preparar; o jeito é aprender com ele a conviver até se acostumar. Mas sabe estar disposta a esta barra enfrentar! Seus filhos merecem, e não os irá decepcionar. Até porque a felicidade deles, para ela, está sempre em primeiro lugar; esteja esta perto de si ou em qualquer outro lugar. Afinal, amor de mãe é amor incondicional e ponto final.

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