UM DIA NO CAMPO
Marco André Alves de Souza

Naquela madrugada, apenas o brilho seco e gelado da lua cheia iluminava os descampados. Mais lindo ainda era o brilho que refletia sobre a forragem verde, coberta por infinitas gotículas de água que na súbita diminuição de temperatura, condensaram-se sobre o epitélio vegetal. Aos poucos, uma leve brisa começava a correr, sacudindo o gramado que crescia sobre o relevo sinuoso daquela região.

Não havia silêncio e nem barulho, qualquer que fosse o som, fazia parte daquela madrugada. Era uma mistura suave de efeitos sonoros que confirmava a presença de grilos, sapos, corujas, cascatas, ventos arvores e assim por diante. Uma sinfonia da natureza. Quem pudesse daquela varanda observar dez minutos, preferiria não dormir. Porque a noite era bela, muito bela por aqueles cantos.

Aos poucos já não se escutavam nem os grilos nem os sapos, apenas as águas descendo o leito do córrego e o vento sacudindo a folhagem exuberante das árvores. Isto porque, diluído na imensidão da noite, de mansinho, os primeiros raios de sol davam tons avermelhados a paisagem no horizonte. Era tão belo o alvorecer naquelas terras que o cacarejo do galo não passava desapercebido.

Algumas pessoas, caminhavam apressadas em direções diferentes. Todos operários da terra ou simplesmente lavradores. Caminhavam para a lida no campo. Lá tinha milho, aipim, feijão, cana, arroz, verduras e legumes... Todos estavam felizes. Havia trabalho, havia dinheiro, havia dignidade no semblante deles. Trabalhavam na sua terra.

A presença do cheiro se tornava cada vez mais forte. Era o café, o leite, o bolo, o requeijão, o queijo, - Ah, cheiro bom! - Também tinha cheiro de lenha, de terra, de mato, de esterco... Cheiro de roça.

Lá fora as crianças caminhavam sorridentes e falantes, carregavam mochila e pastas, ou simplesmente os livros. Iam à escola - Se não fosse a escola, ao riacho com certeza. Era uma molecada sabida. De vez em quando matavam aula pra ir tomar banho, pegar piaba e fazer muita traquinagem, até que os pais descobrissem.

A hora do almoço, sentado a beira da mesa, em frente ao fogão de lenha. A tia cozinha bem! Comida simples e gostosa. Quer ver? Arroz de pequi com pimenta de cheiro, feijão tropeiro puxado no bacon, tutu a mineira com cebolinha e ovos picados, couve a mineira com torresmo de porco, carne-de-sol, lombinho de porco e sucos de acerola, laranja e limão. Fartura! Não acabou não. Ainda tem na sobremesa: pocan, laranja, banana caturra, manga, doce de goiaba, doce de leite, queijo minas, doce de mamão verde e frutas cristalizadas. 

Na hora do sono a rede balança de um lado para o outro, em quanto isso lá fora os pássaros cantam, o boi muge, o cachorro se coça, a galinha cisca... A rede continua balançando até que o a gente dorme. Um cochilo de uma hora, apenas uma hora, porque o dia passa rápido e não compensa deixá-lo passar despercebido.

Na hora do lanche, sentado na cadeira de balanço tomando café e comendo bolo de milho, pode se ver lá longe uma coisa. Algo diferente. A curiosidade é grande. Ta na hora de caminhar. De conhecer e desbravar a natureza daquele lugar. Então tira a bermuda e veste a calça, tira a sandália e calça a bota, veste a camisa, pega o canivete e segue rumo ao desconhecido.

No meio do caminho uma goiabeira. Goiabas amarelas como o sol. A primeira mordida é deliciosa. Até que se nota bicho na goiaba... ? Bicho de goiaba tem gosto de goiaba. Pula da arvore comendo a goiaba e os bichos, também.

Pisa em cima de um termiteiro. Os soldados são os primeiros a correr de um lado para o outro desesperados. Caminha mais um pouco e vê uma figueira. Ainda há tempo para mais uma parada. O fruto é gostoso. Vale a pena parar.

Mais uma pequena caminhada até que a coisa desconhecida possas ser observada com mais detalhes. Uma torre alta de ferro, uma hélice que gira sem parar. Estranho objeto que não combina com a paisagem daquele lugar. Aproxima-se mais um pouco. Tem uma placa bem do lado. O que deve ser?...

“Cata-vento modelo Yakanuda Standard, torre de 12 metros em aço galvanizado, máquina com caixa de engrenagens em banho de óleo, capacidade de recalque de 40 metros, vazão 5000 litros por hora, bomba modelo Dancor 2” e gerador eólico de 12 volts de baixa rotação.”

O Vento foi ficando forte e o dia frio, o sol aos poucos vai se escondendo no horizonte, bem atrás das montanhas. Sua presença ainda é sentida nos reflexos solares que atingiam as nuvens. Está na hora de voltar. O dia está se acabando. Agora restava comer e dormir e esperar a nova alvorada.

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