CATA-VENTO DE UMA VIDA
Pedro Luiz Cipolla

Sou do tempo...

Em que sabonete era Lifebuoy, dropes era Dulcora, creme era Rugol e lustres só da Bobadilha.

Das Lojas Americanas e da Exposição Clipper, e o homem elegante só se vestia na Ducal.

Na Sears,a sua satisfação era garantida ou então teria seu dinheiro de volta.

A televisão e a fotografia eram em preto e branco,mas a vida era colorida.

O sonho de todo menino era ser o Roy Rogers ou o Zorro, e ter o Rin Tin Tin ou a Lassie.

Sou do tempo...

Em que as manhãs de domingo eram no Sítio do Pica-pau Amarelo, as tardes no Cirquinho do Arrelia e à noite a família se reunia em volta da televisão para assistir à TV de Comédia ou TV de Vanguarda.

Guaraná era Tubaína, sorvete de abacaxi ,Kalu,e “filé” era “bife”.

Gibi era só da Luluzinha, do Bolinha e do Pato Donald.

Os soldadinhos eram de chumbo e a criançada jogava bola de capotão,de meia ou então chutava tampinha na calçada.Saíamos logo cedo e só voltávamos para casa quando acendiam as luzes da rua.Nada conseguia nos localizar,a não ser o grito da mãe.

Os remédios,que eram tão poucos, não tinham tampa à prova de crianças e bebíamos muita água de torneira.

Na escola se elegia o Bom Companheiro,o garoto “mais legal” da turma e todas as crianças eram sócias do Clube do Siri, para ajudar ao Hospital do Câncer.

Os alunos que fossem mal nas provas repetiam o ano, e as escolas não “davam um jeitinho” pra todo mundo passar .

Sou do tempo...

Em que na sexta feira Santa as rádios não tocavam música,só davam notícias,e quando tocavam, eram aquelas de Beethoven ou Chopin,bem tristes.No sábado de Aleluia a molecada saía com um pau de vassoura às ruas,só pra “malhar o Judas”.

O amor passeava pelas ruas e casas,e vivia dentro das famílias de braços dados com o respeito e o “Dia da Mentira” era só o 1º de abril.

Amizade era sinônimo de lealdade pra sempre, “palavra de honra” valia mais do que muito papel assinado, e amor fraternal era a "voz do sangue".

Tínhamos amigos.Saíamos e os encontrávamos na rua, ou então íamos até a casa deles e batíamos na porta.Tudo muito simples...

O dinheiro não comprava tudo e o amor com amor se pagava.
Fazia-se o bem sem saber a quem e quando se dava aos pobres emprestava-se a Deus.

Hoje não entendo mais nada...

Por que será que fiquei velho antes de ficar sábio? 

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