CATAVENTO
Rafael Belincanta

João teve uma aula diferente. Acostumado com métodos cibernéticos de aprendizado, o guri foi surpreendido pela professora. Ela resolveu ensinar, justamente naquela manhã de ventania, como fazer um catavento. No princípio as crianças resistiram, ninguém queria desligar os computadores. Durante aquela aula – que há vinte anos se chamava educação artística – os olhinhos ficavam grudados nas telas, acompanhando os movimentos do mouse. Do seu computador, a professora passava as tarefas, e dali mesmo também corrigia. 

Vencida la resistance, a professora começou a distribuir papel, cola e tesouras sem pontas. Era notável a descordenação motora de algumas crianças. João não estava gostando muito, mas deixou-se envolver. As instruções eram repassadas e, aos poucos, as dobraduras começavam a tomar forma de um catavento. O sinal não deixou dúvidas, hora de ir embora.

Mal tinha saído da escola e o novo brinquedo sucumbiu à primeira rajada. Sequer viu aonde foram parar os pedaços, tal a ventania. Ficou estático, com a haste na mão. Não teve dúvidas, e jogou-a ao vento também. Voltou para o hall e, ao abrigo do vento, abriu a mochila e pegou o seu lap-top!

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