A SUA IMPACIENTE ESPERA
Anna Carolina N. Fagundes

12:00

Esperando por mim e por um grupo de amigos, na porta do shopping (na esperança de ir ao cinema durante a tarde, quando as entradas são mais baratas), estavam meu amigo Dirceu e seu irmão caçula, o Carlos – que todo mundo chamava de Castor por causa dos dentes.

- Dirceu? 

- Fala.

- Que horas são?

- Meio-dia em ponto.

- O pessoal tá atrasado.
- Deve ser o trânsito. Fica quieto aí.

 

12:15

- Não é melhor ligar pra eles?

- Mas caramba, Castor, que horas são agora?

- Lá no relógio da praça é meio-dia e quinze.

- Vai ver o relógio tá adiantado. No meu relógio é meio-dia e onze.

- Mas eles tão atrasados mesmo.

- Eu te falei, é o trânsito. Isso aqui é São Paulo, lembra? Ou então o pessoal teve um problema qualquer. Só dez minutos, não mata ficar esperando.

- Podiam ter ligado. Tipo, eles tem o seu número de celular, não tem?

- Ter, eles têm. Daí ao telefone funcionar, são outros quinhentos. Sossega o facho aí, a gente não vai perder o filme. Qualquer coisa, entramos nós, e eles vão na próxima sessão.

- Que graça tem assistir o filme só com você, Dirceu?

- Quê? Ah, cara chato... Na próxima você espera os caras sozinho!

 

12:20

- Alô?...Oi, ainda bem que você ligou, Anna! O Castor tá quase tendo um filho aqui!

- Dirceu, pelo amor de Deus!

- Agora ele tá aqui apelando pra Deus. Devia ter nascido na Inglaterra, não no Brás...É, concordo...

- Concorda com o quê?

- Que você é um chato.

- Vá te danar, Dirceu.

- OK, fala, Anna, o que foi que aconteceu?...Ah, não brinca!... E ela tá bem?

- Que aconteceu? Que aconteceu?

- Castor, larga a manga da minha camisa!

- Então fala o que houve!

- A Fabi passou mal, eles pararam na farmácia pra comprar remédio, vão demorar.

- Mais?

- O Castor tá tendo outro filho aqui, Anna... Não, a gente espera, claro. Er, esse barulho? Não é nada não. É o Castor gemendo de raiva...

 

13:00

- Pronto, comprei os ingressos. Ou eles chegam ou vamos nós dois.

- Pensei que você não gostasse de ir ao cinema só comigo, ô enjoado.

- Na falta de outra opção, você serve.

- Valeu pela confiança...

- De nada...E quer saber? Vamos entrando. Se eles não chegaram até agora, não chegam mais. Que baita falta de educação. Quero dizer, nem para aparecer, vamos entrando...


E iam entrando mesmo, o Castor reclamando e xingando, o Dirceu não dizendo nada (mas morrendo de encher o irmãozinho de pauladas). E eis que na fila para comprar pipoca eles escutaram um berro e deram de cara com seis pessoas que corriam na direção deles. Entre eles estava uma garota de azul meio pálida, com cara de quem comeu peixe estragado no dia anterior.

- Ô Castor, ô Dirceu, desculpa do desencontro básico... – eu me desculpei, na frente de todo mundo – É que custou pra gente achar uma farmácia...A Fabi passou muito mal. E para variar o seu celular estava “fora da área de serviço”.

- Estava mesmo?

- Estava... A gente não encontrou vocês na entrada, achamos que estariam aqui. Desculpa mesmo...

- Que é isso. O Castor que estava quase tendo um troço aqui.

- Eu? Tendo troço? Tá me estranhando, Dirceu? Você que estava querendo ver o filme sozinho, eu até te disse que era uma falta de educação, não disse, não esperar pelos... Ué? Que você está me olhando desse jeito estranho, Dirceu?

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