CANÇÃO DA DESPEDIDA
Paulo Henrique Pampolin

Grosseiro esse mundo. Cruel e individualista, às vezes sádico, nos move como marionetes para lá e cá, a seu bel prazer. 

Empurra-nos para distante do que queremos com artimanhas as quais não temos força ou condições de lutar contra.

Quando penso que muito sei, percebo que apenas engatinho diante a tantas surpresas que uma manhã pode trazer, pessoalmente, ou mesmo via fone.

Choro lágrimas secas, desidratado que estou pela escassez de carinho e muito por minha frieza aprendida contra a vontade, com os tempos longe dos meus.

Lágrimas secas que escorrem por dentro, inundam o coração, artérias, impede funções vitais de manter o corpo em funcionamento.

Algo mantém esse tanto de ossos, carne e músculos de pé. Não sei que força é essa, mas percebo que cede a cada dia e me curvo, diante as perdas que com freqüência acontecem. Até quando ficarei em pé?

Males que não se corrigem na farmacopéia disponível. É mais profundo. É o abstrato, invisível. Ah se o coração tivesse olhos, certamente veria e apontaria onde está.

Corrijo rumos, sigo passos por um caminho já feito, percebo às vezes tardio que os passos que sigo, são os meus... andava em círculo. Não sei a dimensão desse círculo e quanto tempo se perdeu caminhando para chegar ao mesmo lugar.

Não sei se é tarde. Ainda dá tempo?

Deixei pelo caminho, carinhos de todos com quem convivi.

Há muito estou sempre me despedindo de quem me quer. Não consigo frear esse paradigma perverso que me exclui e isola dos meus.

Quero parar essa roda. Quero estancar esses ventos que me levam de onde quero aportar. Baixo velas, mas aciona-se nesse momento motor de popa que é mais forte que minhas remadas que vão na direção contrária.

De novo mar aberto, ondas sinistras, horizonte que não chega, destino improvável, pesadelo acordado. Não há porto seguro que permita minha âncora. Está sempre cheio e volto para mar aberto para uma nova viagem, atá a próxima Sereia.

Irrita-me que o canto parta de mim e o encanto seja sobre ela. Folclore as avessas que afoga quem de mim se aproxima. Há a necessidade de novos encantos e após sua morte partirei para novos mares em busca provavelmente de um novo encanto e assim sucessivas decepções por uma eternidade que queria por fim.

Não dá para assassinar carinhos e sentimentos o tempo todo. Maldição deveria ter limites.

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