UMA VEZ POR SEMANA
Mariazinha Cremasco

Uma vez por semana. 

Sempre às segundas feiras e sempre pela manhã. 

Com fala mansa, ele dizia: "Bom dia, pode falar?" Marta esperava ansiosa por sua ligação. Engraçado é que se conheciam há tanto tempo, e só agora percebia certas coisas.

Quando se encontravam, pareciam outras pessoas. Mal se olhavam. Não se encaravam. Apenas cortesia e educação.

Mas no telefone, ah... no telefone!... ele falava macio, Marta gostava. Tentava fazer de conta que nada estava acontecendo, mas sentia. Não, não falavam nada de mais. Pequenas sutilezas, pequenas delicadezas, palavras gentis, misturadas a assuntos banais, cotidianos.

Sempre o viu como um belo homem. Bonito, cavalheiro. Nada mais. Às vezes, pensava em como sua mulher seria feliz, cercada de amor e carinho. Achava linda a maneira como tratava a esposa, mesmo após anos de casamento. Admirava o casal. Ele não tinha dificuldade alguma em demonstrar afeto. E ainda por cima, um gentleman.

Achava-o bonito. Era apenas isso. Anos de convivência. Festinhas, jantares, pequenos encontros com amigos comuns. 

Às vezes pensava se ele, tão perfeito e bonito, era fiel. Tinha a impressão que não. Mas nunca soube de nada. Nunca ouviu comentários. Flagrava-se pensando: "Ele deve ter outra". Mas sempre tirava isso da cabeça. Aos seus olhos, era um marido perfeito. Chegara a questionar se não teria inveja. Perguntas que nunca tiveram resposta.

Há algum tempo, ela não saberia dizer como, os telefonemas começaram. 

Sempre às segundas, sempre pela manhã. 

"Olá. Bom dia. Pode falar?". Não pediram sigilo um ao outro, mas nunca comentaram com ninguém sobre as ligações. Quando se encontravam, era como se nada tivesse acontecido... 

E, na verdade, nada acontecera mesmo. Seria apenas imaginação de Marta? 

Não. Não podia ser. Sentia o tom que ele usava nos pequenos elogios ao telefone. Ficava confusa. Não, ele não a estava cortejando. 

E se acontecesse, ela não saberia o que fazer. 

Sabia apenas uma coisa: Queria vê-lo, mas as festinhas e encontros ficavam cada vez menos freqüentes. E ele não se propunha a encontrá-la. Ela timidamente sugeriu um café. Ele, delicadamente, recusou. Na verdade, não recusou. Apenas ficou de marcar um dia adequado, o que nunca aconteceu. 

No último encontro que tiveram em público (uma pequena reunião de amigos, nunca se encontraram a sós, nem por acaso), ela sentou-se à sua frente. 

Tinha vontade de observar suas mãos. Não conseguiu. Parecia que todos iriam notar. 

Queria olhá-lo nos olhos, não o fez. 

Tentou perceber se ele a encarava diferente, não pôde.

Foi apenas uma noite agradável. Nada mais. Despediram-se, seu rosto em brasa. Teria ele percebido?

Na segunda-feira após o encontro, ele disse que, naquela noite em que se encontraram, não tinha conseguido dormir.

-Por que? – perguntou - esperando que a resposta fosse: "Por sua causa"

Mas ele não disse isso. Apenas respondeu: "Não sei. Não consegui. Fiquei até o amanhecer acordado, rolando na cama. Depois não agüentei mais e saí perambulando pela casa. E você? dormiu bem?"

-Sim - mentiu - Dormi bem.

Agora, Marta espera, pacientemente, para ouvir sua doce e mansa voz: "alô, pode falar

Sempre às segundas. Sempre pela manhã. 

Uma vez por semana. Até que um dos dois se renda.

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