CERA DE VELA
Luciana Pareja Norbiato

Ácido lático, dor no corpo, quem mandou o sedentarismo? Não culpar os outros - era só o que faltava. Destra. Paredes escorridas, o ácido da pele. Ácido sulfur, desconto, eu também preciso de mais, e não me deixo ter mais. Desconto, não piedade.

O prazo é sempre daqui a pouco, sempre amanhã, sempre quando já não sou. Ainda não sou. E as dores são de ontem, sempre do que não é mais. Mas estou aqui, e o toque preciso indica o tempo, indica quando e quem estou. Agora, agora, agora, agora, agora. A cada agora, eu sou. A cada agora, não sou mais, a cada agora ainda não sou. Por isso a cabeça dói, porque a consciência descompassa o tempo que antes existia sem medir, porque era absolutamente e nada poderia demover o tempo de cada garganta, de cada estômago, de cada rabo.

Flash, luz, dois olhos. Uma mão, eu tampo, um olho único olho, olha. Sou eu ou quem será? Embora reflita uma imagem, quem pode afirmar que essa sou eu? Quem é aquela que me observa da moldura escura e rasgada pelas goivas do comprometimento? Qual é o tempo de me saber sem precisar ver, sem precisar da confirmação da fria lápide banhada em prata, em ódio, em caras que por ali transitam? Eu sou mais que o meu umbigo, eu estou para mais que a minha embalagem. Eu recuso o rótulo de minha carne. Com a ajuda final do refletor de inverdades, um estilete afiado, e cá estou musculatura, carne viva e sangue escorre. Eu nego meu corpo. Me arde.

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