SER OU ESTAR?
Márcia Ribeiro

Era uma vez... 

Num apartamento qualquer localizado na zona norte de uma grande Cidade, vivia uma mulher que não sabia ainda de sua existência. Ela vivia ali no seu castelo encantado, não exatamente como uma princesa, posto que tudo o que havia de princesa em sua vida eram os sonhos e seu constante sorriso diante da vida.

Não saber de sua existência e com isso apenas brincar de viver, transformava-a em objeto dos sonhos alheios. 

Mas justamente por não saber-se mulher e acreditando ser os sonhos alheios os mesmos que os seus, que transformou-se em mulher. Entregou-se aos amantes e aos conflitos. E a partir dali aprendeu a chorar silenciosamente, não conseguindo mais ter em seu sorriso a inocência que por tanto tempo a protegeu.

Não brincava mais de viver e essa transformação não passou desapercebida aos olhos que ela encontrava no espelho do seu quarto.

Transgrediu e foi transgredida. Amou e não foi amada. Foi amada e não amou. Não percebeu a diferença, por imaginar-se igual. 

Passaram-se os anos e com eles os fatos. E com os fatos as desilusões. E com as desilusões a verdade, que ficava cada vez mais evidente. 

Descobriu ainda que sabia firmar-se nas próprias pernas.Mais ainda, descobriu que por conta disso, viu-se obrigada a abrir mão de vez de não saber-se mulher.

Mas os frutos de tudo isso foram ficando cada vez mais adocicados. 

Por tudo e por todos, principalmente por ela mesma, não conheceu as derrotas, pois as enxergava como sinais. Passou a erguer-se com mais vontade quando entendeu que estar não é o mesmo que ser.

Não havia necessidade de reconstruir o seu castelo, pois ele nunca desabou, apenas sofreu algumas transformações. Em alguns pontos poucas, em outros muitas. Mas havia aquele que nada conseguiu alcançar. Era a base sólida que a acompanharia.

Numa manhã de sol, entre a correria de encaminhar as rotinas do lar e preparar-se para o trabalho, estancou diante da imagem no espelho e dedicou-se a admirar o que ali se apresentou. Gostou quando encontrou esculpido em seu rosto o sorriso que, sem perceber, manteve diante da vida.

E por conta disso sentiu a necessidade de ousar. E sentiu-se generosa na sua ousadia, não para com os outros, mas para com ela mesma. 

Usufruiu naquele momento o pensamento que preencheu seu ser e não estar. 

E cantarolou só para seus ouvidos o trecho de duas músicas, que passou a acreditar ter sido a musa inspiradora, 
“viver e não a ter a vergonha de ser feliz...” 
“começar de novo e contar comigo, vai valer à pena ter amanhecido...” 

E percebendo a harmonia entre a mulher e a imagem refletida, pode acreditar.

...e foram felizes para sempre.

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