SÃO THOMÉ
- A DESCOBERTA -

Adriana Vieira Bastos

Mal acabamos de chegar a São Thomé das Letras e já sabíamos, minha amiga e eu, que estávamos prestes a nos deparar com algo que iria dar o que falar para o resto de nossas vidas.

O mistério pairava no ar! Simplesmente nos olhávamos sem nada dizer. 

Fomos por conta própria, sem contratar guias locais, muito menos espirituais. Não gostamos da idéia de precisar de alguém para nos impor rituais, como se estes fossem nos dar a chave dos mistérios da vida. Principalmente, após esses rituais, ter que, perante um grupo sedento de histórias mirabolantes, fazer relatos de coisas que não sentimos, ou então pagarmos o "mico" de dizer que não sentimos nada.

Bem, voltando à nossa peregrinação pessoal, chegamos na ladeira do Amendoim, onde acontecem coisas inusitadas - carros desligados no meio da ladeira, sobem sozinhos - e deitamos no chão, receptivas a toda expressão de vida que quisesse entrar em contato conosco.

Ficamos lá um tempo considerável. De repente, uma singela borboleta amarela surge e começa a me rondar, rondar, como se quisesse me dizer algo. Como sou nova no ramo esotérico não entendi sua mensagem, então, resolvi relaxar. Passado um tempo, ela se foi, confiante de ter cumprido sua missão, e fiquei, feliz pelo privilégio de simplesmente desfrutar a poesia que me trouxe a linda borboleta. 

Saímos do local e retornamos à cidade. Embora nenhuma das duas se manifestasse, nossos olhares selavam uma cumplicidade única - algo imperceptível estava nos acompanhando...

Já era tarde quando resolvemos ir à Pousada descansar um pouco. Conversamos, cochilamos, acordamos e, do nada, comecei a me sentir agitada. Pedi a minha amiga que olhasse o que estava acontecendo. Eis que, finalmente o grande segredo se revela: "Adriana, você está cheia de carrapato pólvora, também conhecido como 'pórvinha' ou 'micuim'. Praticamente imperceptíveis a olho nu!".

A partir desta revelação, descobri que não voltaríamos a ser as mesmas: passamos o resto da noite nos catando e vendo desabrochar em nossos corpos enormes caroços, os quais expurgavam, através daquela água amarelada, o mal que nossas almas não conseguiam mais suportar.

Conforme íamos nos catando, entrávamos num ritual de pura catarse: do susto passamos ao medo, do medo quase entramos em pânico e do quase pânico caímos, literalmente, no riso. 

Começamos a rir, rir, rir... Um riso infantil, um riso descontrolado, um riso sem freios nem amarras, que, aos poucos, transformou-se em pura gargalhada... 

Descobri, através deste riso, o que vim desta vez resgatar em São Thomé das Letras: a alegria inocente que, em alguma quebrada da vida, havia sido abafada pelas crueldades consideradas tão estranhamente naturais ao mundo dos adultos.

E, mais uma vez, pude sentir e viver o poder da magia de São Thomé das Letras. Como diria um bom matuto: "só mesmo vendo pra crer!".

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