MAHOGANY - O FEITIÇO CONTRA O TEMPO
Eduardo Prearo

A vaidade humana... tida como um dos sete pecados capitais... certamente por anjos ou então por homens mui sábios. Quanto maior, mais capital. Só um pouquinho de vaidade já é considerado pecado, mas não sei se capital. Penso, além de na vida, nas múltiplas vaidades, naquilo que creio serem vaidades. Tanto pecado assim quem perdoa? Penso também no ser sem vaidade, no charme que há nele. Diz-se que é deselegante, por exemplo, o homem pintar o cabelo, que homem que pinta o cabelo não é lá muito homem, que homem que pinta o cabelo fica é dando uma certa bandeira, distribui bandeirinhas pelas esquinas. Não creio não. Se se pinta o cabelo é porque se tem tendência, que negócio é esse?

Para parte das pessoas que crêem no renascimento, é inaceitável um homem, um machão, digamos, ter sido mulher em outra vida e vice-versa. Segundo algo esotérico que li, um texto, não sou tão esotérico assim, uma pessoa raramente vem sempre como homem ou sempre como mulher. Verdade ou inverdade, creio que um homem que foi em outra vida mulher vai achar normal tintura em homens, não tanto em si próprio, é claro. Aliás, por falar em tintura, tem algumas pra homem hoje no mercado bastante estranhas, e também bastante caras.

Meu conceito de vaidade está mais ligado ao trato com o corpo e não a certos caprichos ligados a outras coisas. Sei lá, mas vou sempre achar que gente sexy vê mais vaidade em mim no que nela mesma. Na Grécia antiga, parece-me que as pessoas eram vaidosas ou então saradas por obrigação, porque quem não era sarado não fazia parte da cultura, era de certa forma um excluído. A beleza das formas daquela época está refletida na de hoje, aqueles tipos musculosos, aquelas deusas até mais deusas que as beldades hollywoodianas... 

Uma prostituta tem a vaidade como coisa importante na sua profissão. Os proxenetas exigem uma certa vaidade delas, isso quando as mesmas não são autônomas. As prostitutas geralmente são mirabolantes, seus vestidos têm cores berrantes...

As pessoas parece que perderam o medo de envelhecer, talvez porque há contínua revolução na área cosmética, na cirurgia plástica. É um tema meio complicado. Talvez o sonho de muitos seja Mahogany, seja enfeitiçar-se e ir contra o tempo, contra a idade. Talvez eu não devesse ter escrito o que escrevi, o que escrevi aqui. Talvez eu devesse era estar fazendo outra coisa que escrevendo aqui sobre essas coisas. A culpa parece sempre cruel, não é mesmo JV?

- O senhor tem culpa de quê?

- De alguma coisa, não sei ainda. E isso me enoja.

- Sente-se velho, acabado?

- Por que a pergunta, JV?

- Ficamos por aqui. Bem senhor...

JV é meio lacaniano, mas presumo que tenha também uma certa vaidade. E vaidade não é crime, mas incomoda, é uma coisa vista como incorreta se exacerbada. 

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