VAIDADE
Hermann T. Ribeiro

Disse a uma amiga certa vez, que numa manhã, ao olhar-me no espelho, deparei-me com um cara legal, ou melhor, que ultimamente andava enxergando um cara legal, pois até então apenas enxergava um sujeito estranho, digno de comiseração, dele próprio, diga-se de passagem. 

Falar em vaidade para uma pessoa cuja auto-estima nunca foi das melhores, é meio complicado, mas como tudo tem seu lado positivo... Com a auto-estima sempre às avessas, nunca me sobrava muito tempo para me dedicar ao culto de Narciso (santistas de plantão não confundam com o excelente jogador convalescente de um transplante de medula), ou seja, eu não perdia meu tempo preocupado com rugas ou queda de cabelos ou mesmo com qual roupa vestir, mas dizer que eu passava longe dos espelhos, assim como Drácula passava dos próximos a ele para não ser identificado como um sujeito estranho, seria o mesmo que dizer que os pelos de meu nariz e de minha orelha (ainda inexistentes, graças a Deus) não eram aparados.

Para dizer a verdade, eu me deparava, em certas manhãs, com um rapaz muito galante, e chegava a dizer a mim mesmo: “Cara, você está muito bem, tudo está nivelado, como podem as mulheres resistir a tamanha beleza!!!”. Mas estas manhãs eram exceções às regras. Geralmente o que eu via era o meu nariz de batata, a pele, fabriqueta de óleo, as crateras em minhas têmporas resultado de anos espremendo minhas espinhas adolescentes.

Bom, hoje ainda me resta alguma salvação, os dentes amarelados, segundo a amiga dentista, a do início do texto, tem a chance de ganharem uma coloração branca, e as covinhas nas bochechas ainda são um charme. O meu xodó mesmo são os meus cabelos.

Ao visitar minha mãe, em Minas, em julho passado, remexendo nas coisas do meu falecido pai, encontrei os álbuns de família, dois deles dedicados a minha pessoa assim como outros dois dedicados ao meu irmão. Meu Deus, como o passar dos anos são ingratos, olhando minhas fotos, quando bebê e criança, pensei: “Caracoles, eu deveria ser hoje um deus grego”. Perdoem-me senhores leitores, mas não haveria auto-estima abalada que resistisse a tamanha beleza. Como dizia o senhor Caco Antibes, eu era um verdadeiro Príncipe Dinamarquês.

Mas, oh tempo, oh glorioso tempo, como tudo que passa e passa, hoje, recuperado de tantas batalhas, percebo realmente que a beleza interior é a que nos dá vida e a vaidade interior é a que nos assassina. 

Amém.

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