SINAL VERDE
Al

Sinal verde para a vida: ela está chegando. Já tem nome e dois sobrenomes, mas sua forma ainda é indefinida. É a Luíza com "z" ou a Luísa com "s", com ou sem acento, ainda não sei. Sei que com "z" vai ser como a do Tom, o Jobim, e vai, quem sabe, arrebatar também um coração poeta. Se for com "s", vai passar a vida explicando a grafia do seu nome pelos balcões afora, nos aeroportos e nos consultórios médicos — que não precise de muitos, só do pediatra para pesar e do obstetra para dar a luz, quando chegar a hora de ser mãe. Mas deixa disso, porque agora quem vai nascer é a Luíza — escolhi o "z" por culpa do Tom, inevitável. Será um corre-corre, já vejo tudo. A mãe da Luíza em trabalho de parto na sala de cirurgia, a família alvoroçada por natureza no corredor do hospital. E de repente aquela menininha frágil vai ganhar o mundo, cair direto nas mãos do médico e depois no colo aconchegante da mãe. 

Fico eu aqui a imaginar como será Luíza... sei que terá os olhos iguais aos da mãe, daqueles que ficam pequenos quando sorriem. E esses olhos tão típicos crescerão em torno de um rosto suave, sempre a esboçar um sorriso aberto e franco. E sua forma harmoniosa andará em passos largos, desde os primeiros até os últimos, amparada pelo amor à sua volta. Será grande mulher, a Luíza. Mais uma na família. "Outra mulher", pensei, quando soube. Mas o que faria eu, uma tia tão irreparavelmente mulher, com um sobrinho menino? Melhor mulher, melhor ainda Luíza. 

Sem clichês, mas depois dela nada mais vai andar nos trilhos. As fraldas, as chupetas, o choro, a dependência exagerada de um bebê. E mais tarde, já menina, suas estripulias, a escola, o dever de casa, o amiguinho maldoso que bateu em sua cabeça. Depois adolescente, a rebeldia, o fichário repleto de fotos de rapazes da moda, o tênis de marca, a insensatez dos 13 anos. Meu Deus, a faculdade, o namorado, o primeiro fora, a vocação, a escolha da profissão! Escolherá o quê? Que confusão trará você, Luíza, para esses jovens que são seus pais e para essa tia que sente arrepio quando pensa que o tempo passou ligeiro. 

Lembro agora do menino maluquinho. Aquele do Ziraldo, que cresce e não consegue mais controlar o tempo. Mas há tanto tempo para você, Luíza. E mesmo depois do choro e da briga, de passar a noite em claro à sua espera, da bronca, do nervoso, das notas baixas e da raiva, quando os cabelos deles já estiverem brancos e as mãos cansadas, você bastará a eles, Luíza. E o tempo vai correr leve. E a vida vai ganhar sentido. 

Para Luíza
19/09/03

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.