BICHO SOLTO
Abgail

Nasci borboleta, bela, colorida e provida de luz, até me aparecer Franz Kafka, com ele tomei alguma simpatia pelas tão excluídas baratas. Nas eternas fugas das solas de todos os tipos de solados, vim sobrevivendo, se fosse pra morrer não teria de ser sob uma havaiana qualquer, como um sonho de consumo, adoraria ser humildemente esmagada pelo Rider, de preferência o do Marcos Palmeira. 

Eis que me surge, em minha fuçações enquanto barata, nos velhos sebos literários, George Orwell, lendo-o e relendo-o, fiz cá comigo minha própria revolução, não negando a categoria, claro, "Bichos Unidos Jamais Serão Vencidos", mas, inevitavelmente me fiz uma porca, uma pig rosada como aquela voadora do disco do Pink Floyd. Mas vida de leitoa é bem complicada, manter-se em forma, sem aquelas incômodas gordurinhas, aqueles quilinhos a mais, pra evitar o abate, nos faz diferentes dos humanos que preferem os ossos à mostra da Gisele.

Caiu em meus ouvidos uma canção do Raul, tinha até mago de coadjuvante, um tal coelho, me vi então uma ambulante metamorfose, quis ser King Kong, símio malandro, que só traçava loiras cinematográficas, ou quem sabe Flipler, um golfinho boiolíssimo dos seriados da tv, já fui Lassie, Bethoven, Chita e até, saindo do mundo dos bichos, um fusca que falava...

Transmutações... Hoje minha condição de humana me causa alguma vergonha, que saudade das borboletas que, sem esforço algum, são belas, coloridas e providas de luz.

Moral da história (Moral é invenção dos homens), quanto mais me intero do mundo animal, mais os invejo e faço cá comigo minhas metamorfoses pessoais pra todos os momentos de minha aturbulada vida. Tomo como verdadeiro o meu pavor da raça humana, há que se dizer por que?

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