METAMORPHOSIS
Eduardo Prearo

Alguma mudança adviria mais cedo ou mais tarde, uma mudança para melhor. E ele esperava. Talvez não tivesse tanta paciência quanto imaginava, mas esperava. Talvez não soubesse exatamente o que esperava, mas esperava. E todas as noites olhava para o céu à procura de alguma estrela bonita para o último precatório do dia. Sorria quando achava a constelação de escorpião; sem dúvida, uma das mais fáceis de se avistar no céu. O cosmos, e até mesmo o além-cosmos, estava ali na sua frente! Porém, não tinha nenhum êxtase ao olhar para as coisas que achava belas, para o infinito; nunca tivera um que se lembrasse.

Tentava observar a cidade e os edifícios nela, os edifícios que na sua opinião resistiriam por mil anos. Observava as aranhas que ficavam debaixo dos bancos dos ônibus e se arrepiava. Lia os nomes dos hotéis, nos luminosos, e tentava guardá-los na memória, na sua memória. Comungava com os seres da noite.

A solidão parecia algo terrível: por que estou vivo e o que devo fazer para servir-te melhor?, pensava. Achava-se meio que criticado, mas era coisa do inconsciente, coisa da imaginação. Preferia a solidão aos problemas comuns verbalizados, ou seja, realidades. E ninguém gosta de ligação? De uma certa forma achava isso verdade, que ninguém gostava de ligação. Sentia-se, de súbito, invadido, visto como um insano, uma pessoa óbvia em suas ações. Parecia que tinha que mudar muita coisa em si próprio, parecia que ainda não era salvo em Cristo, que ainda não era perfeito, e que todas as pessoas, ou a maioria das pessoas, eram indomáveis.

Os meandros que o destino lhe apresentava também eram coisas do inconsciente, coisas da imaginação? Claro, porque ninguém o olhava com má vontade. Muito pelo contrário. As pessoas o olhavam com a maior boa vontade possível. E quando sorriam para ele, sorriam um sorriso de esperança, esperança que ele mudasse, mudasse para muito melhor, e fizesse do lugar onde vivesse um paraíso cheio de harmonia e felicidade. Todas as pessoas eram boas, absolutamente ninguém iria querer o seu mal. E orava para que Deus o tornasse um santo, para que assim ninguém reclamasse dele. E esperava, e esperava por mudança... por uma metamorfose...

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