HORÓSCOPO
Fernando Roxo

LIBRA
23 de setembro a 22 de outubro
Você terá nestes dias bons elementos para a condu-
ção da rotina material e de trabalho. Busque atitudes
mais seguras ao tratar com dinheiro. Aproximação de
amigos e harmonia íntima.
(JB, 19/10/2003, Caderno B, pag B2)

Aproximação de amigos e harmonia íntima... O que isto significa? Estou a quase mil quilômetros de distância da minha mulher e meus filhos neste início do dezenove de outubro. É claro que já não sou mais "minino", portanto também é claro que não são velinhas (ou seriam velhinhas ?;)) que estão fazendo falta.

Por falta de opção vou ler o que os jornais me reservam e (re)descubro que o Poetinha é do mesmo dia que eu, só que com alguns anos de antecedência. Grande Poetinha!!! Um homem de muitos amores, e não me refiro apenas às suas várias esposas. Afinal um homem que escreve um "Soneto da Fidelidade" ou um "Samba da Benção" é em si um ateu abençoado, com muito amor no coração.

Em seguida vejo que o verão se aproxima e para marcar esta aproximação um monte de mulheres só lindas. E daí, perguntaria Vinícius? Onde está a alguma coisa além da beleza? Onde está a beleza de ser só perdão? Onde está qualquer coisa que sente saudade.

O jornal me mostra um mundo onde INCA's necessitam de devassas para funcionar mal. Me mostra também menos casas próprias por conta de menos créditos e uma medicina desumanizada segundo especialistas. Bem, acho que precisamos de especialistas para isto mesmo, senão fosse por eles como saberíamos disto? Afinal todos achamos a medicina bastante humana, certo?

Acho que estou ficando velho e o avanço da idade deve estar me fazendo enxergar fora de foco os acontecimentos, principalmente os distantes. Não há como dizer que "no meu tempo era um paraíso", mesmo porque não era. Mas pelo menos a lembrança que eu tenho é de estar acima da carne-seca era estar bem de vida. Quem hoje pode se dizer que está na carne-seca ?

Acho que a distância da família me deixa um tanto amargo e com ganas de encontrar nos outros as causas das desditas do mundo. Mas estou participando da contrução de um mundo que vou deixar para meus filhos, e me pergunto que mundo é este? Será que estou mesmo a viver como nossos pais? Será que, apesar de termos feito tudo que fizemos, nós fizemos alguma parte de um tudo de um mundo melhor? Onde erramos e onde temos errado? Porque tenho a impressão que estamos nos aproximando de uma nova era de obscuridade? Onde abandonamos a fé em nós mesmos para deixarmos prá lá um mundo que deveríamos estar construindo?

O dia avança e a impressão de estarmos parados aumenta. A sensação do não ir ao porvir, a sensação de estar para ficar. O mundo parou. Como faço para descer? Talvez o mundo, como o transporte sujo e apinhado das nossas cidades, tenha linhas que nos levem aos pontos desejados por vias melhor pavimentadas, sem tantos tropeços, sem tantos desvios, sem tantos assaltos e seqüestros. Pela hora do almoço o noticiário, quase num rodapé do texto dos apresentadores de pronúncia impecável, me diz o quanto se matou (e se continua matando) no mundo para evitar matanças, como no Iraque e na faixa de Gaza. Isto me lembra de uma foto de duas moças com um cartaz dizendo que guerrear pela paz é como um coito pela virgindade.

Pelo meio da tarde eu acho que mereço um descanso de fim de semana, afinal nem o mundo e nem eu temos culpa de ser hoje. Sento na poltrona do gato de meia cara que adotou a casa e ligo a TV. 

Que programão para um dia comemorativo. Esportes não são minha praia. Os programas de domingo me parecem uma visão de céu e mar no meio do oceano, nenhum porto seguro, nenhuma arribação para nos salvar da nulidade completa, do naufrágio de idéias e ideais. A degradação do homem é total e absoluta. E tome mulher só linda com somente coisa de triste, qualquer coisa que chora. É... 

Qualquer coisa de se saber só mulher.

Acho que este mundo precisa de mais poetas e menos especialistas. Acho que este mundo com rancor e sem pudor precisa mais de quem ame com intensidade, de quem ame com beleza, de quem ame com paixão. Neste dia gostaria de saber como escrever algo que pudesse ser um legado aos meus filhos dizendo: Olha o mundo que te deixo, cuida dele com o mesmo carinho que eu. Mas acho que a amargura da distância me faz ver um mundo cinza, não sei se quero deixar este mundo... Não sei se quero este mundo. Gostaria que o mundo, assim como a tristeza, tivesse uma esperança de um dia não ser mais triste não.

O dia se aproxima do fim. Amanhã será mais uma segunda-feira, mais um início de semana. Eu acho melhor dormir cedo para estar descansado. Quem sabe amanhã não acordo com a sensação que quando me procure a morte, angústia de quem vive, que eu posa me dizer do mundo que tive que não foi eterno, posto que sou chama, mas que o faremos bonito enquanto dure.

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