FAZER TRINTA E DOIS ANOS
José Luís Nóbrega

Nesta manhã chuvosa inicio o aprendizado
Da trigésima segunda página do manual 
Desta máquina complexa e indefectível,
Chamada VIDA.

Iniciei de fato sua compreensã
Por volta da décima sexta página.
Naquele tempo, achava eu que havia descoberto
Todas as funções, que todas as mazelas
Vividas naquele tempo seriam explicáveis.
E assim, por anos e anos, fui me aprofundando
Nas difíceis lições da VIDA.
Sempre fui de fazer minhas tarefas de casa,
Mas algumas, trago inacabadas, 
Desde a primeira lição.

Não sei, por exemplo, ainda como ligar
E desligar minhas emoções.
Emotivo, me emociono por pouco,
E vejo que por muito, ninguém se comove.
Escrevo lindos poemas em português,
Os críticos me respondem em prosa, num tailandês arcaico.
Não sei qual combustível usar,
Pois há dias que corro, faço, refaço, luto pela felicidade,
Tento mudar o mundo com meus passos...
Mas em outros, a inércia me abate,
A falta de apetite me destrói,
E a infelicidade... me domina.

A ânsia de terminar logo este manual
Ás vezes é mais forte,
E tento ler todas as páginas em um só dia,
Em um só ato...
Mas aí, neste momento de desprendida loucura
Ouço minha razão a me dizer:
“Não se desespere José – leia apenas uma página...
A cada ano.”
Rendo-me assim às minhas próprias forças,
E sem querer viver o tudo, transformando-me em nada,
Continuo vivendo...
Página por página, desta máquina intrigante,
Que foi criada, para ser vivida.

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