O VASO VERDE
Thaty Marcondes

Eu me lembro de uma coleção de vasos na casa de minha tia.

Também me lembro que meu primo, vira e mexe, quebrava um vaso dela. Bastava uma brincadeira dentro de casa e lá se ia um vaso ao chão. Irremediavelmente quebrado. Definitivamente danificado. Sem remédios.

Aqueles vasos acompanharam minha infância. Alguns deles ainda podiam ser vistos na minha juventude - elegantemente dispostos em lugares estrategicamente escolhidos para enriquecer a decoração.

Meu filho, ainda criança, pode ver uns poucos vasos - dos mais resistentes.

Minha tia faleceu há dois anos. Antes de sua morte, me lembro que ela ainda possuía um daqueles vasos. Ele era verde, de porcelana fina, com folhagens pintadas a ouro. Na realidade, quando ela ganhou de presente, há muitos anos atrás, eram dois vasos idênticos - era chique usar o par.

Este, que sobrou, estava lascado, tinha perdido o brilho, o desenho estava apagado. Era, agora, um vaso triste, sem vida. Mas quanta vida ele presenciou!

Depois de sua morte, não soube o que foi feito do vaso. Talvez ele esteja com meu primo, guardado como relíquia, única testemunha de suas traquinagens de infância, única lembrança de um tempo de felicidade. Talvez ele olhe para o vaso e se lembre de minha tia - sua mãe. Acho que, quando o olha, ele sente saudades.

Há pessoas que colecionam vasos. Outras apenas quebram os vasos. Outras os guardam como relíquias.

Hoje me sinto um vaso. Quebrado e opaco, como aquele único vaso verde que sobrou da coleção de minha tia.

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