PRIMEIRA E DESVAIRADA
DECLARAÇÃO DE AMOR!

Abgail

Trinta centímetros me afastam dessa tela branca e luminosa, que ainda por cima emitem ruídos, trinta centímetros de um grande e misterioso desejo, dizer tocando em teclas coisas que só o coração podem entender, me alivie João Gilberto, nunca gostei de bossa nova!

Meu senhor, me sinto lisonjeada pela sua presença em minha vida, poderia ser um bom começo, você certamente não gostaria do "senhor". O que é o amor, sentimento louco esse né (tá ficando mais popular. Olha a beija-flor aí gente!!!) e aqui no intento de encaixar o sentimento em palavras, me atordôo com a minha enorme e desconhecida ignorância, é certo que nunca me achei "a intelectual" mas até tenho curso superior, saberia eu, por olhos alheios, descrever no mínimo toda essa transmutação psicosociofísica que me ocorreu logo após ter esbarrado com esse algo incontrolável, com esse tremor louco nas perdas, o desespero das despedidas e a vontade louca de passar um fim de semana em Juiz de Fora. 

Já não faço a menor força para me entender, já não tenho mais tempo para isso, as brigas que tive de comprar comigo, já as fiz, o endereço dos resultados já nem me importam mais. Hoje sim renovada ou, renomada senhora, não me atrevo a perguntar às minhas entranhas quem sou eu ou o que é isso tudo o que me cerca, coisas que pelo menos a metade fui eu quem criou.

Do amor, já não tenho mais nada a dizer, esse saci travesso que sempre me pega em uma perna só, ora eu, ora ele, faz de mim espaço de recreio e eu recreando, adoro, por vezes me divirto, em outras sofro, vida sem graça se não fossem os sofrimentos...

No fundo, bem no fundo, é impossível não se render. Vem sorrateiro, te assusta, e quando já é muito tarde você já está novamente comprando "sonhos de valsa" pra guardar a embalagem como marcas de momentos.

De pobre isso nada tem, talvez de inconseqüência ou quem sabe de insanidade, o fato é que é bom, e se amor for água, afogo-me em ti, fogo, me aqueço, mesmo que a distância em tuas chamas, sendo ar, plano-te, mas quero-me terra, centrado na doce e sensata experiência de ser-me, terreno, plantado na esperança de receber suas podas que me talham suavemente e com fins, afinal, quero brotar e crescer, a medida que tenho-te e que disso dependam toda a nossa passível e inevitável paixão.

Com amor,
Abgail

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