DAQUI PRA FRENTE
Adriana Vieira Bastos

Fim de ano, hora de balanço!

Dentro de si esta frase ecoou e achou por bem no túnel do tempo voltar.

No início do ano conheceu uma seita que lhe prometeu abrir as portas do mundo. Como não a tinha visto antes?, perguntara-se, na época, encantado. 

Bastava seus ensinamentos seguir e sua vida iria mudar! Teria de mentalizar, todos os dias, o que para si queria. Pensar alto era a opção, e nela deveria jogar toda sua energia e convicção. 

E assim pensou! Um cargo de diretor, um conversível, e mulheres para si almejou e neste objetivo, de janeiro a julho, sentado no meio da sua sala, arduamente se concentrou, e o mantra do progresso passou a recitar. 

Sabia não ser um caminho fácil de percorrer. Teria que resistir as intervenções externas, colocando em xeque sua determinação. Primeiro foi o pai, oferecendo-lhe um mero empreguinho de assistente de produção, conseguido com o amigo de infância. 

Depois foi ter que encarar a mãe, dando uma de pomba gira, chutando todos os incensos espalhados pela casa, e blasfemando contra a sua fé espiritual. 

Mas, resistiu! Estava preparado. Precavido, havia até deixado um dinheiro com o seu guru para ser feito um trabalho de energia em grupo para ajudá-lo a não esmorecer.

No segundo semestre, sentiu as energias dos pais piorarem, atrapalhando a sua conexão com o astral. Como os amava preferiu seguir para a casa de campo e, depois de um tempo, acabou o ano no litoral. 

Mais uma vez a incompreensão dos pais parecia ser o grande exercício a enfrentar. Chamavam-no de vagabundo só porque pegava algumas ondas para espairecer e ter ânimo para dos exercícios espirituais não abandonar. 

E neste “pique” chegou ao final do ano quando, do nada, no meio de uma onda, deparou-se com um sujeito estranho, barba por fazer, fala macia e pausada, olhar inquisidor, perguntando-lhe, à queima roupa, de quanto tempo precisava ainda para se tocar ou imaginava que do alto iria começar?

Doeu-lhe mais ainda quando o sujeito, sem a mínima cerimônia sugeriu que parasse para pensar se não estaria, na real, aplicando um tremendo “um sete um” (estelionato) achando que, no dia-a-dia, enganava as pessoas. Afinal, estava ou não a fim de trabalhar?

Sem graça, não soube o que responder e, com as pranchas em baixo do braço, resolveu que estava na hora da vida repensar. 

Hoje, um pouco mais na real, sente ainda um turbilhão dentro de si reverberar. Mas, pelo menos, optou por uma programação bimestral. Não vai mais esperar o ano inteiro para ver se anda ou não se dando mal. 

Mas como, daqui pra frente, o país só funciona mesmo depois do carnaval, resolveu curtir as férias forçadas e pegar umas ondas em Maresias pra levantar o astral. 

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