NOTÍCIA DE UM VALOR-HUMANO
Bruno Pessa

Há nove meses, os pais souberam que ele vinha se juntar a nós e se emocionaram. Tal anúncio não foi bombástico, nem contou com sorrisos e lágrimas diante das câmeras. Eles não foram convidados por nenhum programa matinal ou de auditório, e as páginas das celebridades em foco não enalteceram seu nome.

No início da gravidez, já contavam com a presença dos avós, sempre solícitos e disponíveis, mas os jornais não ficaram sabendo. A gestante diminuía sua carga de atividades e, quando possível, deixava o filho mais velho sob os cuidados de parentes e amigos próximos por algumas horas. Tudo, visando a saúde do bebê, era feito, mesmo se este, ainda, era feto. Todas essas imagens, porém, a TV nunca exibiu.

Lá pelos seis meses, do emprego a mãe se afastou, em busca de repouso, e a mídia nem comentou. A gestação lhe trazia dores e preocupações, jamais levadas em conta por analistas e colunistas de renome. Do princípio ao fim, o acompanhamento pré-natal foi impecável, embora isso não tenha sido sublinhado pela imprensa.

Numa segunda-feira, nada se ouviu pelo rádio ou pelos plantões de última hora. Ele simplesmente veio, não foi o primeiro, o último, ou o número mil do ano, nem o dez mil da história da maternidade. Ele veio do amor, que o tornou ser humano e que, com certeza, torna todos nós mais humanos. Se o humano não é valor-notícia, deixo aqui a notícia de um valor-humano.

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