CONTO, MAS NÃO CONTO
Edison Veiga Junior

Após ascender, assentei-me e acendi o cadafalso. Vendo-o em chamas, ainda lembrava-me do cadafalco acentuado, pra onde fui depois do acidente incidental. Assertei rapidamente que era hora de acertar-me. Afeado estava quando afiei com afinco minha ansiedade curiosa. Na verdade não era afim daquilo. A fim de quê busquei este fim? 

E, em um instante, um súbito alvoroço alvorotou por mim, já augusto, naquele local angusto, inóspito. Vi uma anunciação enunciada.

Embora em vida não tivesse sido imoral, encontrava-me totalmente amoral naquela situação singular. Reconheci a área e conhecia a ária. Arriei os pálidos sentimentos. Livre estava dos arreios. 

Foi quando então, percebi a origem da cantiga. O bocal da flauta bucal incessava, por detrás do verde buxo, com um bucho assoprando. Avistei todos os falecidos cabidos, que também tomavam parte naquele cenário estranho. Alguns trajavam finas roupas recém-retiradas dos cabides. E o cardíaco defunto cardeal apenas acompanhava, saindo da cela, montado na sua sela amarela. 

A forte cerração prejudicava o tardio censo celestial, enquanto a serração sem senso continuava incessante sobre a carnificina da oficina vizinha. No longínquo chalé, ao mesmo tempo, estava o xá, já morto também, tomando chá serrado do dono do xale, que ostentava sabiamente, chistoso. 

Existia, ao fundo, um belo campo xistoso, onde floresciam muitas cidras com sabor adocicado de sidra. No lago, ao lado, um gracioso corso. À margem, um corço embebedando-se de água, enquanto um sério sírio segurava círios, misteriosamente. 

Dentro da chácara, uma sessão seccional cedia bonitas xácaras concertadas, sem mínimos consertos, As moças jovens cosiam coisas na cozinha, cúpidas da conjuntura cupida, o que acredito ser apenas uma conjetura.

Diferi o olhar, deferindo a pedidos, agradando aos desgraçados degredados degradados. Todavia, com muita discrição, me aventurei a continuar a descrição, descriminando, indiscriminadamente, todos os envolvidos.

E meu julgamento? Não sei, creio que fui dispensado. E, pasme, já me encontrava na despensa do local, onde entrei despercebido, e totalmente desapercebido.

Dissequei o local, dessecando as lágrimas tristes que ainda emergiam de meus olhos imergentes. Iminentemente me deparei com o eminente-mor, continuando, mesmo assim, a considerá-lo imérito. Ele imitiu-me oficialmente, emitindo edito próprio. Aproveitei para espiá-lo, expiando-me em seguida.

Minha estadia estava por deveras longa, informava a estádia. Esperto era, ora, mas não experto o suficiente. Permaneci estático, extático, na estância instada. As estratos alertavam-me como se fossem extratos de doces perfumes azuis. Estripei, extirpando-me.

Estava completamente fasto. Apesar dos pesares, sentia-me fausto em meio a tanta aridez férvida, fervida. As fragâncias por mim captadas flagravam as flores floridas e flóridas próximas dali. Aquele aroma fútil e fúsil fuzilava os fusíveis de meu coração, libertando das guaridas as mais dolorosas lembranças.

Das guaritas saíam os incertos guardas insertos, incipiando atitudes insipientes. Incontinenti, correram incontinentes e indefensos, como verdadeiros indefessos infringindo as regras. Tudo bem, depois seriam corretamente infligidos por tal desobediência, já que não eram mais intemeratos, mas sim somente intimoratos. 

Continuei por ali, vagando vagabundo, por toda a eternidade. Este foi meu destino sem tino, vadiar pelo paraíso obscuro, desprovido da beleza inexata do Éden. Talvez fosse melhor não ter morrido, continuar um inválido valido nas mãos do velho mundo terreno. 

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