ARQUINHO COLORIDO
Olívia

Faz tempo que não passo meus olhos em seus grisalhos curtos, molhados e presos num arquinho colorido.

Seus vestidos estampados e você... que estampava o sorriso no rosto. Sempre. Especialmente nas tardes de domingo, regadas ao truco dos seis e às grandes escorregadelas dos três no barranco de terra vermelha.

Tem coisas que nunca se vão.

O cheiro de pão pela casa. Pão de torresmo, café bem preto. Margarina. Leite quente, licor de jaboticaba. Sabor de casa de vó. Vó Maria.

Faz tempo que não entro em teus olhos apertadinhos, cor de mel, sorridentes. Faz tempo que não sinto o bafo quente do latão de sabão feito em casa. Você, com suas mãos.

Há quanto tempo não como seus doces de mamão, há quanto tempo não vejo a lida no rosto enrugado, no colo queimado do sol doído do canavial.

Há quanto tempo não te dou tchau. Nem te beijo com meus lábios de saudade e tampouco te abraço fundo, com vontade.

Balas de um armazém qualquer da cidade me lembram você, que as tinha sempre no potinho de vidro, tampa vermelha, transparente.

Há quanto tempo não vejo aquele "desejo-criança" de passar um pente nos grisalhos e sair por aí. Procissão, Tambaú, Aparecida do Norte. Deus no coração, fé na vida e pé na estrada.

Saudades. Eu sinto um baú de coisas bonitas se abrindo aqui quando relembro de ontem, de tempos seus, estampados de doçura e valentia.

As lembranças, vó. Elas todas têm seu jeito. Seu jeito de vó, Maria.

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