A MORTE ESPREITAVA
Adriana Vieira Bastos


E ela, como uma criança ofegante, acordada no meio da noite soturna, encontrava-se profundamente assustada. Sentia-se assim, desde que soubera estar chegando a hora de novamente enfrentar uma cirurgia no seu coração.

Pânico total!

Confusa, passava-lhe, à frente, "flashs" do motivo que a inspirou comemorar seu recente aniversário: "início de uma nova vida".

Nova vida? Recomeçar? Onde?

Quem mandou brincar de numeróloga?.  O que a fez determinar uma nova vida para os seus 46 anos? Este pensamento martelava-lhe a mente.

O prazo de validade vencido correspondia apenas à sua válvula ou a ela também? Um arrepio percorreu-lhe o corpo! Será que os céus estavam achando que esta nova vida seria lá?... Assim como Hamlet, ela também tinha a sua "grande questão"!

Como conviver com tal expectativa? Não imaginou que esta notícia pudesse despertar dentro de si um turbilhão de sentimentos, com os quais passou a conviver.

Seu coração não era o mesmo. Estava cansado. Não conseguia mais acompanhá-la. Desesperava-se com isso. Não podia mais fugir a esta triste realidade.

Assustada, deixou a fragilidade falar mais alto. Foi se fechando, fechando e quando deu conta, havia transformado sua vida em dias nublados, tristes, sombrios.

Vida? O que andava fazendo de sua vida?

Como uma criança surpreendida pelo presente de seus sonhos, sentiu o despertar de um grande pesadelo. Percebeu o quanto o medo de morrer a estava impedindo de viver.

Atônita, olhou-se no espelho e deparou-se com um sorriso tímido, mas feliz, pela grande descoberta. Aprendeu que o medo faz parte da vida. Como também faz parte não deixá-lo no comando de sua própria vida.

Um pouco mais confiante, voltou a apagar  a luz do quarto e desfrutar o "sono dos anjos", ops, o sono dela mesma.

Quanto a morte, e para evitar qualquer dúvida, resolveu parodiar a propaganda das casas pernambucanas, que muito a embalou na infância, e cantá-la em alto e bom tom:   " não adianta bater, 
                   que eu não deixo você entrar, 
             ainda tenho muito pra viver,
             e com a minha turma compartilhar".

Afinal, como sempre dizia seu pai, "seguro morreu de velho"... 

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