LUA TRIFÁSICA
Bárbara Helena

 
 

Alfredo,

É um privilégio ter um homem tão rico em nuances.

Eu acredito nas suas fases. Acho uma idéia poética e verossímil. Acredito na lua de ficar sozinho "preciso de um momento meu, estou sem luz para você meu quindinzinho" ou na lua da preguiça "puxa, amor, estou de lua minguante não dá para arrastar a cama em outro dia?" ou até mesmo no "logo hoje que estou todo aceso, vem com estas frescuras de enxaqueca, meu tesouro? Aproveita a lua cheia que dura pouco"... Dura muito pouco mesmo, Alfredo, mas descobri porque. Suas fases se alternam nos quintais alheios e quando é lua nova aqui no meu jardim, brilha um plenilúnio na cama da Laurinda. Nossas luas minguantes tem ascendentes magníficos nos leitos das vadias. E as marés são conseqüência do excesso de pinga que mina teus músculos, entorpece teu cérebro e te deixa mouco para tudo que não seja o carteado e a safadeza. Tuas luas de cara cheia são ponteadas pela cumplicidade do Ali Babá e o balanço da terra dos quadris alheios.

Mas ando farta de olhar pro teu céu, das tempestades de raios cósmicos do nosso amor, da eletricidade estática das minhas raivas e os furacões do meu ciúme.

Vingança é um prato que se come cozido e refogado no tempo.

Também descobri meus satélites, coração. Só que minhas luas são trifásicas como as tomadas. Tem entrada para vários tipos. Do português da padaria (aquele dos meus sonhos e seus pesadelos) ao boyzinho da zona sul que conheci com a Laurinda (para alguma coisa servem as piranhas).

Você foi riscado do meu mapa astral. Nem se pedir de joelhos no tapete atrás da porta, posso te dar um raio de carinho. Um eclipse de lua vai te fazer bem, Alfredo.

Dá tempo para enxugar as lágrimas de crocodilo, lustrar a cara de pau e ensaiar as mentiras de camelô.

Até o próximo cometa.

 
 

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