LOBO-LUAR
Shirley Kühne

 

Quando o conheci rangia os dentes,
discreto quase.
Depois foi apurando a saliva,
ficando suave,
vinho bom,
às vezes,
dionisíaco êxtase.
Fluía lento
como a lua crescendo
no outono
da noite
.
Outras lunações,
a alcatéia uivava:
metástase.
Voltou a discursar com os dentes trincados.
Não mais serenava, mesmo depois do coito.
Foi se encravando, travoso, confuso.
Alucinado,
lixava meus pêlos
até eu ficar crua:
trepanação de alma.
Um saca-rolha perfeito,
certeiro para
tirar-me
de mim.
Desencarnei dele.
Tomei o primeiro zepelim.

 

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