AMOR SEM FIM
Elaine Brunialti

Mãe, essa crônica é para você, assim peço licença para dividir com vocês um pouco da minha história com essa mulher doce, guerreira, paciente, exigente e acima de tudo transbordante de amor.

Matriarca sim, daquelas que ainda traz a prole à rédea curta, desde o primogênito entre os filhos ao caçula entre os netos. E ai daquele que ouse reclamar.
A doce senhora fica uma fera e diz : Me desobedece que morro já!. Terrível mas adorável.

Consegue ocupar todos os espaços sem ser intrusa. O amor que nos oferece não tem limites, porém não sufoca jamais. Dá conselhos sem se impor, é sábia e simples na medida certa.
Sinto não ter na memória de todos os nossos momentos, desde aquele em que saí do ventre para os braços dessa maravilhosa mulher.

Mas não quero contar da educação ou dos puxões de orelha, e sim de nossos maiores momentos de cumplicidade.
Alguns entre tantos pois ela é, e sempre será, nossa maior cúmplice.

Das noites principalmente, pois acho eu e mamãe éramos meio corujas. Desde que ouvíamos o grande rádio-vitrola, que ficava sobre o guarda roupa no quarto, no qual ouvíamos o programa do Morais Sarmento com músicas lindas que nos embalavam o sono e depois, um pouco mais adiante, quando adentrávamos a madrugada assistindo TV.

Mãe nossa era casa tão simples, lembra? Nosso cantinho, o sofá vermelho (acho que agora entendo o porque amo sofás vermelhos) e o pequeno televisor de 14 polegadas preto de branco de segunda mão. Ali assistíamos a filmes como Missão Impossível, na época seriado semanal, ou programas como o quem tem medo da verdade (aquela voz do Sargentelli ao fundo, do qual não se via o rosto), os musicais e festivais da Record.

Isso sem contar nossas farras gastronômicas desde os grandes pedaços de bolo dos quais nos regalávamos à noite, passando pela pastinha de leite em pó com chocolate ou aquela bomba calórica de gemada com flocos de farinha de milho! Manjar das Deusas.

Foi ali que ficamos assistindo a transmissão do primeiro passo do homem na lua, entre incrédulas e orgulhosas por fazer parte daquele momento ímpar da história.

O inesquecível ar de censura de quando viu o maço de cigarros na minha bolsa, que propositalmente deixei para contar-lhe a terrível besteira que na época não sabia estar fazendo, até a felicidade estampada nos olhos ao ouvir tantos anos depois a frase Mãe, parei de fumar.

Dos conselhos após confidência do primeiro beijo à lágrima sem palavras após compartilharmos minha primeira desilusão amorosa.

Hoje, vivemos juntas há 46 anos; privilégio de filha mais velha. E a diferença de idade, que um dia pensei haver entre nós desapareceu, e ela passou a ser a minha jovem Mãe, novamente.

Ainda nos trata como crianças e nós adultos achamos que podemos mandar nela, o que nos rende grandes momentos de alegria e de muita risada também.

Agora a dividimos com os netos, que graças não são tantos assim, não que lhe falte amor para distribuir a todos, o que lhe falta é colo para abrigar tantas cabeças ciumentas que querem seu afago, geralmente ao mesmo tempo.

Na próxima sexta-feira completará 70 anos, com tudo em cima como dizemos agora, sem plásticas, bottox, silicones, sem tinta no cabelo, entretanto mais linda que nunca. Com toda a sabedoria que a vida lhe deu e com uma ânsia de viver invejável e enquanto eu gostaria de comemorar a data em um restaurante agradável com toda a família bem comportada, ela optou por um pagode para sambar até de madrugada. Esse pouco que contei é para tentar dizer o quando eu a amo, e sinceramente tenho certeza que não soube como dizer.

Assim, vou parafrasear o Roberto Carlos, chover no molhado e dizer:

Mãe como é grande o meu amor você!

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