NÃO SEI COMO.
Osvaldo Luiz Pastorelli

 

Não sei como dizer, mas vejo o raio da sua luz interpenetrando outras luzes confundindo-me com a beleza que ela desponta no horizonte do meu sentir. É algo assim meio tenebroso ao mesmo tempo grandioso, porque reflete teu ser puro, saudável, numa eloqüência estarrecedora. Confunde-me porque as tonalidades que ela reflete se mistura com as diversas luzes que a rodeia. Não sei se propositadamente ou inconscientemente, parece-me confortadora, auxiliadora aos mais desesperados, ou talvez seja apenas minha imaginação de escritor, não sei. Ou você pode achar que estou pirado, falando loucuras nesse dizer sem saber como dizer num amontoado de palavras confusas. Mas saiba que é verdade, a única loucura que há é o que sinto e que você pode ou não acreditar. Tanto é verdade que estou roubando essas poucas horas do meu expediente para escrever algo que não sei se você vai ler. E olhe, o que estou lhe escrevendo é apenas um rascunho do que quero lhe dizer, do que realmente sinto, pois as palavras são demasiadamente pequenas para dar a dimensão exata do que eu quero dizer.

Mas em todo caso como poderei dizer como é a sua luz, como ela inflige no meu proceder? Não sei como dizer realmente. Se soubesse não estaria dando voltas com as palavras que me fogem do cérebro e escorregam para as pontas dos dedos pressionando o teclado preto do computador. Sabe, percebo quando me acontece isso. É quando ficava a tua espera. Olhando para o horizonte infinito na esperança de vê-la rapidamente e para minha decepção você demorava demasiadamente. Então vislumbrava as luzes num trafegar intenso, se chocando entre elas. E de repente, sem saber de onde, vi-a radiante misturando-se complacentemente com as outras. Nesse instante meu coração deixava de ser aflito e minha alma abria os braços para recebê-la. Porém, creio que para desfrutar mais um pouco da minha angustia, você se embrenhava no intricado de raios deixando minha carne dolorida de tanto desejá-la o mais rapidamente possível. E no meio do vai e vem de luzes e cores brilhantes você começava a brincar de esconde-esconde. Quando pensava que surgiria daqui, você surgia de lá, se acreditava que era daqui, você aparecia além, até que, creio, cansada, você despontava à minha frente magicamente.

E não sei dizer como acabou. Era algo que me estarrecia pensar. Acabou não por minha culpa, ou mesmo que fosse, mas minha culpa não era tão grande para encerrar um acontecimento transformando-o numa tragédia pontilhada de pequenos flashes saudosos. Analisando os detalhes parece sonho que se esgarçou nos liames do tempo. Sonho que começou inconseqüente numa noite de verão que, por sinal, estava frio e não quente. Mesmo assim despertou e me alimentou por longos dois meses. Fui carregado flanando momentos intensos de intoxicação amorosa onde perdi a noção do que fazia, do que estava fazendo, a noção exata do sentido. Navegando na incerteza do irreal tinha a preocupação da certeza de estar numa realidade fora do meu limite imposto ao sentir tua luz envolvendo-me.

Então sempre me pergunto: não sei como dizer o do porque de um momento para outro você desaparecer assim sem mais e sem menos, sem deixar um alô, um adeus, uma explicação, o do porque do fim do nosso relacionamento? Essa pergunta como martelo martelando a cabeça do prego, em minha mente ficará sem ter uma resposta condizente. Como naquela noite de verão fria você apareceu, dois meses depois, numa noite de inverno quente você desapareceu.

E assim perdido, jogado no meio de luzes que nada me dizem estou desnorteado esperando um milagre: o seu surgimento.


 

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