ZDNECK, JURO QUE É MENTIRA!
Rosi Luna

Zdneck,


Não entendo que esteja com essa crise de idade. Mas tente não surtar e contar pra mim, meu touro. Há fases na vida que são tão complicadas de encarar. Tudo no RG leva a crer que está velho assim, mas as vezes é só um papel passado. Como vou fazer você retroceder, meu vulcão? Faça um esbolço monumental e imagine a situação crítica que te desmonta hoje, aqui diante de você com essa cara de gorila querendo enxovalhar esta alegre, sorridente, e isolente siriema.

Veja bem, Zdneck, sei por tudo que está passando. O motivo de eu ter dito aquela idade foi puramente uma mentira passional. Senta aqui do meu ladinho e bebe lentamente minhas
líquidas incertezas, e vai ver quão criançola está sendo comigo, meu camaleão furta-cor.

E, Zdneck, enquanto a gente tenta se entender, doura uns marisquinhos na caçarola de cobre, minha gostosura. Meus questionamentos ficam mais confusos quando não tenho petisco pra comer. Aliás, Zdneck, eu sempre gostei de petisco, de marisco e de brincar de toca de índio nas suas partes íntimas - desde os tempos das aulas de História no Colegial. Eu ficava ficava olhando vocês com aquelas bermudas curtas de suspensório brincando de forte apache. Você era o índio que me flexava mais. Eu logo fiquei atiçada pra fazer parte da sua tribo, Zdneck.

Então, minha tortuguita, sabe aquele primo que veio do Nordeste, consertar as bancas de bicho? Pois é, como de praxe, eles chamam de contravenção, mas todo mundo joga. E ele foi logo brincar de te chamar de "tarta" e você pensando que era um apelidinho carinhoso. E era coisa de Matusalém pra lá, quando vi tava virando a cabeça em rotatória como no filme do Exorcista. E ele foi logo dizendo que "tarta" era de tartaruga marinha que tem mais de cem anos, e que eu tava namorando um cara passadinho, imagine só! Que culpa tive eu nessa parada, meu dragão chinês bufando fogo?

Mas, Zdneck, você sabe que primo sempre tira conclusão, por isso eu logo me lembrei do Sean Connery, que tem muito mais idade e continua de tirar o fôlego. Pensei cá comigo: - Ele vai suportar e vamos fechar essa brincadeira de cronologia. A satisfação da família
acima de tudo!

O marisco já está pronto? Deixa ver. O que é isto, Zdneck? Parece minhoca adormecida! Meu Crocodilo Dundee, você deixou fritar tanto que encolheu como pinto de japa. Eu já disse vou ter que mandar fixar um outdoor pra te dizer que gosto bem molinho, sabe como ostra viva quando coloca limão que se encolhe toda, Zdneck. Eu até comprei aquela camiseta regata do Paraguai com a cobrinha da Nike e deixa de fora esse ombro herculéo pra você arrasar na cozinha e fazer uma Paella Valenciana de dar inveja ao crítico gastronômico Sílvio Lancellotti. Tubarão, pega essa mariscada embolada, põe numa abóbora com vela acesa e deixa numa encruzilhada. Talvez pra algum despacho vá servir, Oxalá meu pai!

Daí, Zdneck, eu fui obrigada a dar um fora no primo, e ele dançou com essa história de falar que todo mundo um dia fica com cara de maracujá todo cheio de pregas. Não quis nem ouvir os argumentos de falar que eu tinha que namorar um cara mais jovem. Esses trogloditas com cérebro de ameba não me atraem, fui logo dizendo. Não quero saber de esculturas de Michelângelo, se bem que esse teu calípigio não é de mármore não. Puro gesto de carinho familiar, Zdneck! Você sabe que eu sou a prima mais queridinha e ele quis zelar pensando em nenhum gabiru me fazer má companhia.

Não seja um general, Zdneck! Não vê o quanto a gente pode melhorar a condição do pessoal da terceira idade, não rotulando mas chamando de os "vividos" esse gesto de aceitar que o "ser jovem" é uma idade que está na cabeça e não nos documentos. Você é filho de Deus, Zdeneck! Só quis garantir que o Produto Interno Bruto está ativo e sem viagra. Aquela coisa de pinto ereto por milhões de horas dá pra desconfiar. Entendeu onde é meu ponto G, meu pão de queijo? Foi em prol de uma entidade de homens geriátricos bem sentimentais que eu
entregarei o meu coração.

E Zdeneck, já que a gente se entendeu nesse lance de maturidade, deixa pra lá essa coisa de ser maduro e de cair do pé, tira a cuequinha e vira de costas, deixa eu ficar apreciando essa bunda de Davi e vamos lá pro colchão perder a respiração, que eu quero te mordiscar e fazer esquecer tuas manias. Me deu uma vontade desenfreada só de ver você assim tão a vontade pronto para as minhas evasivas. Não sei como dizer. Você é diferente dos outros, meu pistache. Como eu sempre disse, você é quase uma estátua escutural.

Mas, Zdeneck, na próxima vez seja um bom chef especialista em frutos do mar e deixe o marisco bem molinho, no ponto de aquário, quase vivo.

Zdneck, anda logo, meu Cavaleiro da Távola Redonda!


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