SÓ UM MOMENTO DE SOLIDÃO
Humberto Raposa Celia-Silva

Ninguém acreditaria mesmo se eu contasse. Tudo ficou escuro derrepente. É uma dassas coisas que não se espera muito que vá acontecer logo com você, mas mesmo assim todos sabem que um dia vai acontecer com eles. Confuso não? Minha mente devaneia de tempos em tempos tentando entender até aquilo que ninguém entende, tento encontrar algum sentido naquilo que não tem sentido nenhum. Tento apenas ser um pouco mais humano para entender a própria vida enquanto ninguém escreve um manual de instruções para ela.

Uns surtos acontecem de vez em quando. Uma torrente de pensamentos arrasa a mente e não deixa nenhum rastro. Tudo o que e tem é uma mente recem reformatada e apenas isto. Palavras fora do lugar e idéias que não fazem sentido. Foi isso o que aconteceu. Um segundo entre o estar e o ser. Um momento em que não se importa nada além de si mesmo. Triste, fora de si, alegre e mesmo assim chora. Deitado no chão por não Ter conseguido se segurar de pé tenta manter um pouco de dignidade enquanto enchuga as lágrimas, uma aqui outra alí. Como se chorasse! Como ousa! Não sei chorar, ou se sabia desaprendi, tudo era simples o suficiente para apenas se irritar ou se alegrar, nada além disto, mas agora, do nada, tudo o que vinha sendo guardado rasgou a barreira do lógico e inundou a mente com desespero. A agonia de não poder fazer nada e de ser insignificante perante tudo aquilo que eu sentia não foi maior que a raiva de mim mesmo por não Ter percebido a onda chegar. Cego! Burro! Agora chora consigo mesmo, tente chorar, tente achar algum alívio abraçando o chão, ele será o último a te abraçar! Sinta sua mágoa agora quie ainda pode, um dia simplesmente não será possível. Continue no escuro. Ignore toda a luz e se entregue a este breve momento de infelicidade. Tudo vindo de uma vez. Isto me tornará mais forte! Amanhã lembrarei deste momento com uma gargalhada! Tudo vindo de uma vez! Ninguém me ajude agora, preciso sangrar um pouco. Estou sangrando! Não havia visto mas estava sangrando.

A queda de volta a realidade foi tão violenta como a ida à aurora. Levantei-me do chão, recolhio minhas roupas, me arrumei o suficiente e saí para o mundo, como se nada tivesse acontecido, mas, afinal, nada aconteceu.


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