OS SONHOS SE ADAPTAM?
Bruno Lacerda

 

O rádio sempre foi minha obsessão.

Quando os bebês estão mais “crescidinhos”, isto é, quando já estão engatinhando, os pais mostram à criança um objeto e, ela engatinha para pegá-lo. Então, os pais andam, fogem da criança, para estimulá-la a engatinhar mais rápido.

Porém, meus olhos não têm o dom de enxergar. Então, para me estimular a engatinhar mais rápido, meu pai usava um objeto que fazia barulho: Um rádio de pilha. Ele ligava o rádio e “fugia” de mim e, eu engatinhava correndo atrás dele, ou melhor, atrás do rádio.

E fui crescendo, ouvindo rádio. Em minha casa não tinha som: Tinha apenas um rádio de pilha. Quando meu pai comprou o som, para mim, foi um dia fantástico. Nós dois, isto é, eu e ele ficamos ouvindo música alta. Minha mãe também ouvia música e meu pai, além de música, ouvia transmissões esportivas. Eu ganhei o radinho de pilha e, ficava mudando de estação de rádio (o rádio de pilha era só AM). Enfim, cresci ouvindo rádio e, minha primeira obsessão foi um gravador.

Eu queria um gravador para brincar de locutor. Eu queria colocar a fita dentro dele, ligá-lo e, falar, como um locutor de rádio. Depois, eu seria meu próprio ouvinte e, ouviria meus “programas”. E mais uma vez meu sonho demorou um pouco a ser realizado e, essa demora o tornou mais intenso, melhor. Eu sonhava com esse gravador, freqüentemente. Em um natal, consegui a realização desse sonho: Ganhei o objeto da minha obsessão.


Brinquei muito com o gravador, tanto, que ele estragou. Continuei sonhando com ele: Queria outro. Ganhei e, hoje, tenho dois.


Mas, só agora percebo que meu verdadeiro sonho não era aquele.

Meu verdadeiro sonho, o qual lutarei para alcançar, é passar no vestibular e, brincar de ser locutor em uma rádio de verdade: Esta é e sempre foi minha obsessão (o rádio).

 

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