QUARTO 13
Marco Britto


Sexta-feira, pontualmente às vinte e uma horas. Sapatos Cavalo de Aço (bicolores, azul-e-branco), calça boca-de-sino e jaqueta Lee “americana” , cigarros Du Morier no bolso da camisa xadrez...

- Garçom! Dose dupla... Montilla, coca-cola, limão e a chave do quarto treze...
As sextas-feiras eram assim....

Pouco demorava e Rosamar, toda perfumosa, descia as escadas...

- Garçom!!!! Toma aqui, quatro fichas e não interrompa! Não deixe freguês algum pôr outra ficha antes dessas quatro. Olha lá, hem! O seu tá garantido!

“Je T’aime”... Toda sexta-feira. Dançavam, conversavam e sorriam... A luz roxa fazendo sombra no meio do salão. Os corpos juntos, apertados... Depois voltavam à mesa.

- Garçom (sabia o nome de todos mas fazia questão de tratar assim)! O Treze, pronto? Uma garrafa de Montilla, coca-cola, limão e gelo...

Rosamar, morena cabo-verde, pele acetinada, cheiro de brejo exalando dos seios. Seios fartos, empinados, ameaçando romper os botões da blusa de decote generoso. Rosamar dadivosa, de boca e lábios generosos. As ancas convidando para subir as escadas...

Cinco da matina. Pontualmente! Logo após o segundo apito do trem. Os olhos vermelhos, as batidas dos tacões ressoando nos degraus. Um rápido café, uma nota de cem dobrada sob o pires...

***

Sexta-feira, pontualmente às vinte e uma horas. Sapatos pretos de bico fino. Terno cinza, calça de corte reto, lenço branco no bolso da camisa de linho. A mesa de canto no fundo do salão, uma garrafa de Montilla, coca-cola, limão e a chave do quarto treze...
Pouco demorava e subia as escadas...

Cinco da matina. Pontualmente! Logo após o segundo apito do trem. Os olhos vermelhos, as pisadas leves ressoando nos degraus. Um rápido café, uma nota de cem dobrada sob o pires...

Começava assim ....As sextas-feiras... Já há treze anos que era assim.... O quarto vazio e os olhos vermelhos...


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