CONFRATERNIZAÇÃO!
Adriana Vieira Bastos

Ou Olimpíada?

Com esta dúvida, Carlos se preparava, quando a mãe lhe telefonava para combinar o churrasco do Domingo. Mudava o local, mas o espírito competitivo permanecia. A ordem das provas é que se alterava, pois esta dependia do estimulo extra, oferecido pela cerveja patrocinadora do evento.

A modalidade “Vaidade” era sempre muito concorrida. Mas, para tristeza da mulherada presente, Ana, sua irmã mais nova, era imbatível. De acordo com suas entrevistas, evitara até chorar na hora do seu nascimento. Tudo para não estragar a maquiagem. É mole ou quer mais?

A modalidade “Intelecto” ficava sempre nas mãos do "bestinha" do Arnaldo. Respeitável professor da Unicamp. Com ele, ninguém ousava discutir ou competir, pois senão, entre uma picanha e uma asinha de frango, teriam que engolir, pela milésima vez, sua indigesta tese de doutorado feita na USP.

A modalidade “Levantamento de copo” também não tinha para ninguém. Embora a disputa fosse feroz, tanto em número de atletas, como de preparo físico, Adilson, o irmão mais velho, sempre levava. Bebia, passava mal, tomava leite, comia sal. E voltava a beber, sob o olhar enviesado de todos.

Juliano era insuperável na modalidade “The Bezt”. Não dava para concorrer com seus prestigiadíssimos contatos e mirabolantes projetos. Patrocinados pela mãe, é claro! Sua flexibilidade era tanta que, a cada churrasco só mudava a sua área de sua atuação.

A modalidade “Carente confesso” era a esperada do dia, pois os argumentos usados eram de arrasar. Geralmente começava lá pela 5ª rodada. A cerveja subia, e a maioria, mais prá lá do que pra cá, deixava seus fantasmas participarem.

Valia de tudo. Lembrança da falta de convite para o batizado do sobrinho, do carro que o pai dera para a irmã, da proteção da mãe pelo irmãozinho do coração, e assim por diante...

No último churrasco, então, um pirulito não ganho na infância dera a Rogério, o quarto irmão, o desempate, a vitória da semana e uma sessão extra na terapia.

A modalidade “Elevação Espiritual”, praticamente não tinha concorrente. Esta, sem dúvida, era de Cássio, o cunhado simpático e bonachão. Sempre calado, permanecia num canto estratégico e se divertia às custas do pastelão.

E a modalidade “Em cima do muro”, embora houvesse razoável disputa, acabava nas mãos de Dalva. Até porque ficar no meio do confronto entre a família e seu queridinho marido Arnaldo acabara sendo de grande valia para se manter estável na categoria.

JUÍZES? Qualquer um e todos ao mesmo tempo. Bastava estar no pedaço, para se acharem no direito de palpitar e às vezes até fazerem as coisas se complicar.

Quando o seu pai ficava bravo e achava que ele estava de gozação, deixava claro que este era o seu jeito próprio de tentar traduzir esta reunião. Não só traduzir como dar ao mundo o seu testemunho do amor. Do amor que sentia por esta família especial.

Sabiam que iriam se encontrar, se esquentar,brigar, chorar, se acalmar, beijar, mas não iriam, de modo algum, abrir mão do churrasco familiar. Este era o jeito que tinham, todo próprio, de amar.

E você aí, que está se identificando com algum personagem desta ficção, relaxe, pois família só muda de endereço...


 

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