CRÔNICA INDIGNADA DE UM ALLEGRO MISANTROPO IV
Sérgio Galli

 

(ou, os canalhas venceram)
(ao som da chacona da partita de J.S. Bach)

adjetivo de dois gêneros
1:relativo a ou próprio de pessoa vil, reles adjetivo e substantivo de dois gêneros 2: que ou aquele que é infame, vil, abjeto; velhaco substantivo feminino 3: Uso: pejorativo: conjunto de pessoas infames, abjetas, desprezíveis.

coletivos: canalhada, cáfila, cambada, corja, jolda, maloca, malta, matilha, pandilha, partida, quadrilha, récova, récua, rabacuada, súcia, suciata; sinônimos/variantes: abjeto, acanalhado, baixo, bocório, cafajeste, chulo, desbriado, desgraçado, desonroso, desprezível, escroto, espurco, feio, ignóbil, ignominioso, imundo, incorreto, indecoroso, indigno, infame, inominável, inqualificável, intolerável, mal-afamado, mariola, mesquinho, miserável, mísero, moleque, mucufa, obnóxio, odioso, ordinário, pangarave, patife, pífio, pulha, rebaixado, reles, ribaldo, sacana, sem-vergonha, soez, sórdido, sujo, terrulento, torpe, tratante, tratista, velhaco, vergonhoso, vil, vilão; ver tb. sinonímia de pulha, ralé e súcia;
etimologia: it. canaglia (a1338) 'conjunto de pessoas desprezíveis', (1531) 'pessoa malvada', der. de cane 'cão' + suf. coletivo e depreciativo -aglia; ver ca(n).

Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss


Os canalhas não morrem (ou demoram para tal). Um canalha a menos. reagan se foi (tarde, mas foi). Mas o mundo é dos canalhas. Os velhacos são os donos do mundo. Senhores do Universo. Senhores da Guerra. Eles venceram. Não devem ser a maioria, mas são a supremacia. Em cinco ou seis mil anos de civilização – que é o nome que damos para guerras, invasões, destruições, pilhagens, suborno, corrupção, estupros, violações, butim... -- As matilhas sempre estiveram “por cima da carne seca”. Raríssimas vezes eles nos deram um pingo de tranqüilidade, paz, sossego. Escrever no genérico é sempre um risco, mas eu o assumo. Quando digo vil não são apenas os governantes, sejam do passado, do presente e do futuro. Eles estão em quase todos os lugares. Têm o dom da ubiqüidade. Quiçá, da onipotência, onisciência e, claro, onipresença. Assim, por exemplo, quem manda hoje no mundo são algumas centenas de corporações econômicas – os governos e governantes estão a serviço dessas corporações – o chamados CEO (executivos) são os canalhas-mor. Repito, não é questão de ser “malzinho” ou “bonzinho”. Nem de boas intenção, afinal, delas (boas intenções), o inferno está cheio. O que importa é o resultado e disso, não é preciso falar muito, nem se esconder atrás de estatísticas, gráficos, tabelas, pesquisas, relatórios, discursos, etc. Os fatos estão em frente de nossos olhos (desde que não queiramos ser míopes ou, o que a mídia esconde deliberadamente, afinal, há muitos e muitos pulhas na mídia).

Mas há gradações de canalhas. Hierarquias. Estratificações. Castas. Como em qualquer sociedade, seja primitiva ou contemporânea. Se há a nobreza canalha, há também vassalos canalhas e até servos canalhas. Os exemplos pululam: o guardinha da esquina; o síndico do prédio; o porteiro do prédio; o pai patrão; o meritíssimo; o motorista que passa o farol vermelho; o dono da padaria ao lado; ad infinitum. Não haveria papel para terminar a lista. E quando pessoas “de bem” tecem elogios, prestam homenagens, escrevem editoriais e artigos laudadórios que tratam o ex-presidente americano como um estadista – mas hitler, stalin, mussolini, pinochet, lindon jonshon, ferdinan marcos, mobutu, idi amin também são estadistas? (e assassinos), louvam um canalha morto (reagan) é mais um sinal de que realmente a humanidade vai mal (desculpem a rima). Que é o fim da humanidade (que também já vai tarde). Mais um agravante: agora querem canonizar o caubói-presidente, ao menos é o que diz matéria publicada num jornal de grande circulação em são Paulo. O homo demens realmente se apossou do homo sapiens. O cinismo venceu e é demais para meu fraco estômago. Estou com náuseas. Um assassino é considerado estadista!!?? É o fim dos tempos. Não por acaso uma notícia e um dado são muito reveladores de que o legado do falecido caubói continua a nos atormentar. No ano passado, a canalhada gastou quase um trilhão de dólares em armamentos. Anotem: UM TRILHÂO DE DÓLARES... Enquanto isso.. Não é preciso dizer, repetir, ressaltar... Mas o circo da hipocrisia tem de continuar. Por exemplo, essas ridículas e inúteis conferência da ONU para comércio e desenvolvimento, contra a pobreza, contra a violência (sic)... Na verdade, trata-se de mais um espetáculo da indústria do entretenimento.

É muito tedioso.

E essa malta não está nos cárceres, ou em algum esconderijo. Ao contrário, circula nas altas rodas da fortuna e do poder. Bebem e comem do bom e do melhor. Freqüentam com galhardia as colunas sociais dos jornais, da televisão. Dão palpites, influenciam. Tripudiam, gargalham, num escárrnio de nós, a patuléia. Esta, por sinal, também respinga a uma certa canalhice no mínimo por omissão, pois, apesar desse sistema de escravidão financeira, continua a eleger esses fulanos. (e eu, fico a metralhar palavras neste teclado de computador). O pior dos assassinos preso em qualquer prisão de qualquer parte do mundo não passa de um atirador de estilingues comparado a essa corja.

Por fim, os leitores, a lua e sol são testemunhas do amor que os caubóis e a canalhada tem pela guerra, pelas armas, pelo ódio.

sugestão de leitura: “A melhor democracia que o dinheiro pode comprar”, Greg Palast, editora Francis, São Paulo, 2004.

 

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