DE QUEM É A CULPA?
José Luís Nóbrega

 

Pai e filho adolescente conversam enquanto caminham pelo parque:

- Pai, eu queria lhe perguntar uma coisa. Sabe o que é, eu tava lendo uma daquelas revistas que o senhor guarda lá no banheiro, aquelas de mulher, e lá tava dizendo que...

- Meu filho, você andou mexendo nas minhas revistas? Aquilo não é pra você! Vou jogá-las fora...

- Mas, pai, eu só tenho uma dúvida, eu queria saber se eu posso...

- Meu filho, quando chegar a hora eu lhe direi se pode ou não. Não vamos passar o carro na frente dos bois, meu filho.

- Sabe o que é, pai, é que outro dia eu vi um médico dizendo no Jô que dependendo de como se faz até pode, mas tem que ter cuidado, e...

- Filho, você tá vendo TV até de madrugada? Maldita hora que eu fui fazer as vontades de sua mãe! Amanhã mesmo jogo aquela porcaria fora. Vamos mudar de assunto, vai.

- Poxa, pai, eu só tô querendo me informar! Eu andei lendo aquele livro do seu amigo psiquiatra, o Paulo Gaudencio. É aquele tal Manual do Prazer, e lá ele também diz que pode, mas diz também que...

- Não, essa não, meu filho?! Você andou lendo o livro do Gaudencio! Eu nem devia ter aceito aquele livro!! Mas, já viu, né!! Meu amigo de infância. Veio com dedicatória e tudo. Mas pode ser o que for, vou jogar aquela droga fora. Eu já li, sua mãe já leu...

- Pai, na verdade... Na verdade, pai, eu tava falando com a Malu, e nós não sabemos se pode, ou se não pode...

- Você tá falando da Malu, meu filho?! Aquela menina, a filha do meu amigo de faculdade, o... o...? Ah, não! Vamos devagar aí! Acho melhor...

- Pai, você não vai jogar a Malu fora também, vai? Acho que nós não estamos falando a mesma língua. E mais uma coisa, se o senhor quiser jogar a Malu fora, saiba que estará jogando o seu neto também. Eu só quero saber se nós podemos transar enquanto ela está grávida, pai?! É só isso! Uns dizem que pode, outros que não...

O pai pára a caminhada, e por instantes, parece não sentir as pernas. Desmaiar ali no meio do parque seria ridículo. Olha para os lados procurando um banco... Não há bancos ali, apenas um gramado. Senta na grama com o coração quase saindo pela boca, enquanto o filho caminha, sem nem se dar conta de que o pai havia ficado pelo caminho...

- Filho, volta aqui! Não é possível! Não é possível! E justo com a Malu?! Filha do... do? Eu não errei, meu filho! Eu não errei...

 

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