SEJA UM POUCO INÚTIL
Bruno Pessa

Hoje estou com vontade de dar uns conselhos. Não tenho lá idade nem rodei o mundo para fazer alguém me escutar, mas não importa. Não tenho também pretensões de ser plagiado nas mensagens de fim de ano; se o contrário acontecer ou, pior, já tiver ocorrido, que o meu repeteco não seja inútil como o resto do que direi.

É exatamente essa a moral da minha história: seja inútil. Pelo menos um pouco. Pelo menos quinze minutos, aquele tempinho que todo brasileiro tolera, no qual o seu amigo demora ou a exibição do filme atrasa. Você não vai querer se jogar no lixo sendo inútil. Superado o espanto inicial, tudo sairá bem...

Primeiro comece fazendo as pazes com seu humor. Lembre-se, você não tem o poder de evitar tragédias, porém é todo seu o controle sobre como reagir a elas. Ao acordar, pense no que vai mais lhe satisfazer no seu dia. Se ele for uma droga prenunciada, pense em algo logo para tentar esquecê-lo... De qualquer forma, é melhor começar sorrindo, e nada melhor do que bobeiras para provocar aquela risada espontânea, do nada. Aquele seu colega que banca o palhaço xingando a TV, a piada que valeu a noite anterior, a pisada na bola que rendeu gargalhadas no emprego ou na sala de aula – relembre e rache o bico. Cantar é infalível, e não é coisa só pra banheiro não: cante, nem que seja baixinho, ao andar na rua, dentro do ônibus, quando o semáforo vence sua pressa. Experimente fazer versões, aproveitando o ritmo e construindo suas próprias rimas pro tema que escolher: a auto-estima agradece.

Seu corpo também merece cuidados, no status de termômetro do seu bem-estar. Se você se sente bem quando se empanturra de batata frita com refrigerante, tudo bem: mergulhe a batatinha no guaraná, fica mais gostoso. Comer pode ser muito mais divertido quando se raspa a panela do bolo e se vai com o canudinho até o fim, naquele ruído quase orgásmico. As pessoas podem reprovar? Ok, sempre tem a hora do “enfim, sós”... Fazer esporte é o maior barato, ainda mais quando a tampinha de garrafa faz de você um Ronaldinho, no estacionamento da lanchonete, ou um Michael Jordan, a três metros da lixeira da cozinha. Mas o melhor de tudo é dançar: como resistir ao balanço de um reggae de uma loja de CD’s? Se você acha que shopping não é danceteria, azar o seu. Aproveite ainda que você já é uma Ivete Sangalo sob o chuveiro e levante poeira ali mesmo, preparando as coreografias pra próxima balada.

Basicamente é isso, quem pegou o espírito do negócio saberá postar-se nos mais variados contextos. Se você achou tudo isso inútil, está com a razão: não serve pra nada, mas faz um bem...

 

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