LAPSO DE MEMÓRIA
Lula Moura
A vida me levou adiante,
passando por cima do ego,
e a música ficou distante,
na caixa, embaixo do prego.
A arte se escondeu no pano,
e o palco me acenou tristonho.
Quieta, fiquei em meu canto,
no estranho vazio medonho.
Já tinha esquecido o encanto.
E triste, me sentia inútil.
O vinho parecia um pranto,
num copo de vida fútil.
Já tinha esquecido o quanto
a luz em mim, refletia.
Nem bom, nem ruim,
nem tanto.
Nem oração, nem Maria.
Mas fé por fé, inda tinha.
E as perdas me fizeram ganho.
Estranho: um coração, um sonho.
Memória me fez recordar,
e acordando feliz, dei de ombro.
Lembrei o que sou !
Eu sei que sei.
Hoje digo, hoje falo,
hoje sinto um estalo.
Já estou aqui, acordada.
Não quero mais essa espada,
não quero mais esquecer.
E qual de mim, acordada,
manterá a alegria alada,
nas asas da imaginação?
Não importa, é uma porta.
Um salto no escuro,
mas vendo ser valorizada,
a alma da minha canção,
e o "eu" do meu porto seguro.
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