SOLIDÃO A DOIS
Argento

 

Sábado era seu dia predileto. Podia acordar mais tarde, fazia a fé na loteria mais próxima de sua casa e principalmente porquê não tinha nada, nenhum compromisso sério. Tudo era resolvido de improviso. Um passeio ao parque com os filhos, uma ida a praia, um chope na esquina com os amigos, uma canção nova na viola ou simplesmente assistir um DVD ou um filme na TV.

Claro que me esqueci de dizer que o tal sujeito era separado e que tirava as sextas-feiras para atacar de galo nas noites cariocas. Boites e noitadas sempre regadas à loirinha gelada.

Bom, tinha também aquela menina de fé que ele via semanalmente e na qual destilava beijos e satisfazia sua paixão voraz de garanhão quarentão.

Nosso Dom Juan vivia contente, mas pagava um alto preço. Ou seja, aquela com quem desfrutava do amor carnal não completava a sua alma. Não traduzia em canto os seus dotes prodigiosos da cama. E em vão ele tentava entender os mistérios do coração. Se ficasse sozinho, sofria da falta que aquela necessidade carnal fazia, se saia com a dita cuja sentia no fim um vazio no coração. Depois do amor... Ah, depois do amor, faltava aquela coisa a mais além do prazer, aquela coisa mágica que poderia fazer-lhe flutuar feito um pássaro. Mas não, depois do amor ele só conseguia sentir: SOLIDÃO. Ou seja, como dizia o poeta: “Solidão a dois, de dia. Faz calor depois faz frio”(*).

(*) Cazuza

 

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